PREFÁCIO
Parecia só mais um dia, mas, para os conhecedores da verdade por trás dos astros, era um dia a menos. Para esses, que entendiam o que estava prestes a acontecer, já havia passado da hora de começar os preparativos.
O mundo não os ouvia. Não, os seres humanos, cheios de si, eram magníficos demais com sua soberba e tralhas tecnológicas para se preocupar com uma estrela anã marrom fria que eles mesmos, afogados em sua inteligência cega, nem ao menos tinham conseguido provar a existência. Não, nenhum ser humano poderia entender mais do espaço que os satélites que, tão estupidamente, haviam sido criado por eles mesmos.
Não, não havia outra estrela, não podia haver. A Via Láctea era segura, um Sistema Solar, não um Binário. Não, Nêmesis, a estrela da morte, não era real. Ela apenas havia sido criada para assustar e trazer mais e mais teorias nos anos que antecederam "o fim do calendário Maia". Já haviam se passado quase cem anos... Como podiam acreditar nessas bobagens ainda?
A NASA não entendia. sim.
CAPITULO UM
Ele olhou pela cortina, irritado. Não, não era pra ele estar em casa hoje. O garoto devia estar trabalhando com a NASA, como em todos os dias desde que havia chegado ao meio da faculdade.
- Malditos. - amaldiçoou seus superiores.
Ninguém acreditava no que ia acontecer, ninguém acreditava nele. Diziam que suas teorias eram malucas, mas ele sabia que não eram teorias. Eram estudos mais que comprovados.
Suspirou, pateticamente cansado. sabia que nenhuma daquelas pessoas que haviam acabado de pousar seus carros em sua calçada acreditariam nele, tampouco. Amigos ou não, ele era o maluco agora. Mas ele faria de tudo para protegê-los.
Fechou a cortina, jogando-se deitado no sofá. Seus cabelos não eram penteados desde que ele havia sido afastado temporariamente da NASA, por estar perturbando o andamento das pesquisas reais com resultados reais, há três dias. Férias preventivas; parecia até piada.
Quantas vidas seriam desperdiçadas por aquele simples erro?
A campainha tocou e ele não estava com vontade alguma de levantar pra atender. Ele sabia quem eram aqueles, sabia que a NASA ligaria para eles virem fazer alguma espécie de intervenção. Eles chamavam de "Curar a maluquice", preferia o termo "Calar a verdade".
- Entra! - Ele resmungou. Não sabia se ficava feliz por ver os amigos ou grunhia de raiva pela situação.
A porta se abriu à sua ordem e os cinco amigos entraram, parecendo ter combinado de chegar ao mesmo tempo. Ao olhar melhor, reconheceu uma sexta pessoa, entrando escondida atrás de seu amigo , parecendo assustada de estar ali.
Ótimo, além de maluco, ele também era um monstro devorador de namoradas assustadas? Legal.
- Ei, cara! - foi o primeiro a se aproximar. Deu um peteleco na orelha de , rindo, e abaixou-se ao lado do sofá.
vinha logo atrás dele, sorrindo quase que com medo da reação do garoto. Ela sentou no pouco espaço que sobrava do sofá e segurou a mão de , que antes estivera jogada sobre o peito dele. Ela olhou pra trás e mordeu o lábio, quase que arrependida daquela reação espontânea.
seguiu seu olhar e cerrou os olhos ao ver , aproximando-se, aparentemente sem saber o que fazer. vinha ao lado dela e, atrás dos dois, e a namorada, .
- Dá pra parar de me olhar assim? - ele pediu, desviando o olhar de , sentindo o coração dar umas fisgadas de dor sem que ele pudesse fazer nada. - Eu 'tô legal, não 'tô maluco nem nada.
encarou todos se entreolhando e revirou os olhos.
- - chamou, docemente.
Ela deu uns passos pra frente e se assustou, saíndo rapidamente do caminho dela até . Ela caiu ligeiramente em cima de , antes de se encolher e pular para o lado, sem ver que olhara para com cara de quem não estava gostando muito do que via.
- , - repetiu, sentando-se exatamente no lugar que estivera antes. Ela colocou a mão sobre a barriga do garoto, acariciando-o como se fosse um gatinho. - Se você está bem, por que a NASA o afastou por suspeita de excesso de estresse?
Ela perguntou isso de uma forma tão calma que não conseguiu levar como ofensa, como ele, provavelmente, levaria se qualquer um dos outros presentes tivesse questionado. Ele ignorou o coração batendo mais forte à aproximação e toque dela e sentou-se no sofá, dando à garota mais espaço. Ela sentou melhor ao lado dele e entrelaçou suas mãos, sorrindo. sorriu bobamente ao contato e só então lembrou-se que havia esquecido de responder à pergunta.
- Não é stress, - ele disse. Encarou a garota e depois passou o olhar pelos amigos, admirando suas reações. Então, fechou os olhos para não ver as seguintes. - era verdade!
Ele fingiu não ouvir as exclamações surpresas dos outros. Exceto de , que nunca falava nada.
- Ele está maluco, mesmo. - murmurou.
- Não diz isso, , seu insensível! - ralhou com ele.
- Ah, agora eu sou insensível? - inquiriu, a voz cheia de sarcasmo - Você não me achava insensível quando eu...
- DÁ PRA PARAR, VOCÊS DOIS? - berrou, perdendo a paciência. Quando ela falou, a seguir, nem parecia a mesma pessoa. - , acho que você precisa descansar.
Ele abriu os olhos e encarou todos na sala olhando para ele quase que com dó. Não, eles não deveriam estar com dó, deveriam estar desesperados. O mundo, como conhecemos, iria acabar em poucos dias.
- Não, eu não preciso! - ele se levantou. A namorada de se encolheu atrás dele. - Escutem, vocês. Há uma anã marrom fria no nossos sistema. Não somos um sistema solar, nós somos binários! A cada trinta milhões de anos, essa estrela marrom, Nêmesis, se aproxima da nossa Terra, provocando reações na mesma. Ela mexe com nosso núcleo, provoca extinções em massa. Ela tem se aproximado gradualmente nos últimos cem anos, desde quando começaram com a bobagem do calendário maia! Peguem os gráficos, vejam o aumento nos desastres dos últimos cem anos! Há provas! Eu as tenho, mostro pra vocês! - Ele saiu andando para um cômodo próximo à sala e continuou falando. - E vai piorar. Ela está entrando em uma area onde ela vai poder influenciar mais e mais a nossa Terra. É quase certo que haverá inversão dos pólos em alguns dias...
Os outros não estavam mais prestando tanta atenção, eles sussurravam entre si.
- O que vamos fazer? - murmurou. Ele estava chocado demais com a situação do amigo e era a primeira vez que abria a boca pra falar algo desde que saíra de casa. A cada dia, ficava mais parecido com a namorada.
- Ficar com ele, é claro. - respondeu. Então olhou para - Certo?
A garota concordou com a cabeça, sem tirar os olhos do resmungão, jogando papéis ao ar, a fim de achar os papéis certos para mostrar aos amigos. Ela sentiu o coração doer. E se, em uma remota chance, ele estivesse certo? E se... Ela nunca tivesse a chance de se acertar com ele? A garota sacudiu a cabeça, jogando os pensamentos para longe. Era bobagem, nada iria acontecer.
- Ele precisa pensar em outras coisas, - ela disse, a voz ainda carregando um pouco das dúvidas em sua cabeça.
- A gente pode alugar umas boas projeções, - disse. Ele espreguiçou-se e apoiou o braço na poltrona atrás de . Bom, não era, na verdade, na poltrona e isso fez quase matá-lo com os olhos. - Isso, pipoca e devem distraí-lo um pouquinho - ele riu.
ficou mais vermelha que um tomate e chutou , sem conseguir dizer nada. Ela teria dito, se seus pensamentos não estivessem tão parecidos com os dele.
- ! - ralhou. - Você não pode... - Ela virou-se pra ele e perdeu um pouco o foco ao perceber que ele estava com o braço em volta do ombro dela e sorrindo perto de seu rosto - ... Er... Falar... Hm... - Ela desviou o olhar e olhou para , que parecia tentar se fundir com o sofá. - Falar dela como se ela fosse um objeto!
O garoto sorriu lindamente.
- Senti falta de você brigando comigo - disse.
corou tanto quanto .
- Ei, gente - chamou a atenção - Vocês vão querer mesmo alugar as projeções? Eu e a podemos...
- NÃO! - disseram os outros, menos , que não iria abrir a boca pra falar mal do namorado e nem para falar qualquer outra coisa, e , que ainda estava buscando os papeis.
- Você nunca escolhe filmes bons, - disse. Ele tentou não demonstrar a raiva, mas seus olhos, em cima de , o traíam.
- Não mesmo, - disse. Ele apoiou-se no chão e levantou-se em um segundo, oferecendo a mão à . - Eu e a vamos, sem problemas.
Se vocês pudessem ver , teriam a mesma impressão: Ele iria matar .
- Eu vou com vocês, - disse assim que conseguiu puxar do chão e quase passou o braço pela cintura dela, ao perceber a proximidade dos dois.
, finalmente, entendeu o que estava acontecendo. Ela olhou para os dois e murmurou um "Ah, não" inaudível.
Os três saíram da casa em silêncio, sentindo-se totalmente incomodada com a situação. Não, ela não iria se preocupar com isso, seu amigo precisava dela.
- Bom, acho que a gente vai comprar comida, - disse logo após ver os amigos entrarem no carro, através da janela - está com cara que... - Ele olhou em volta, percebendo todo o caos - Não se preocupa com isso há um tempo.
Ela concordou com a cabeça, não pensando realmente no que teria na cozinha, ainda envergonhada por ter sido colocada em "coisas para distrair o ". Só quando e saíram e surgiu de volta na sala com um papel e uma cara de quem era dono do mundo que ela entendeu porquê havia saído.
Ela viu em câmera lenta quando o sorriso dele se desfez e ele olhou em volta, totalmente confuso.
- Onde foram todos? - Ele perguntou.
suspirou, se levantando do sofá. Haviam deixado que ela resolvesse o problema, que cuidasse dele. E ela não sabia se teria capacidade para fazer isso com todas as reações, há tanto tempo armazenadas, que seu corpo tinha apenas sob o olhar dele.
Ela andou em passos curtos até ele e o garoto - não mais garoto, ele já era um homem! - ainda mantinha o olhar confuso.
- Você precisa dormir. - Ela disse, passando os dedos pelas olheiras que ele ostentava.
Suas mãos tremiam, ela tinha medo que ele tivesse percebido.
- Eu não quero dormir, eu preciso... - não conseguiu terminar porque encostara a cabeça em seu ombro. Ele sentiu seu corpo todo dar uma amolecida e passou os braços por sua cintura, engolindo a seco. - Tudo bem, - rendeu-se.
Ah, pobres homens, sempre facilmente dominados pelas preocupações e vontades femininas.
Ela sorriu, dando um passo pra trás.
- Bom, então, onde é seu quarto? - Questionou.
- Eu vou... Hm - não precisava dizer algo coerente, ela só precisava sair de perto dos dois.
Ela sumiu entre os corredores de projeções muito rapidamente, deixando os dois rapazes sozinhos e com carrancas extremamente parecidas.
resolveu ignorar o outro, olhando as prateleiras, tentando achar alguma projeção que pudesse fazê-los distrair .
- É melhor você parar com isso, - rosnou atrás dele.
suspirou, queria evitar isso, mas no momento que a NASA ligou e pediu que ele ajudasse a acalmar , ele sabia que chamariam os outros. E no momento que ele decidiu que queria voltar a se aproximar de , ele sabia que aquilo ia acabar acontecentedo.
- Isso o quê? - Ele perguntou, decidido a não falar nada antes de ter a confirmação do que era.
Como se precisasse.
- Ela é minha, . Sempre foi.
De todas as coisas que poderia ter dito, aquilo deixou extremamente irritado.
- Sua? - questionou. - Não acredito que ela tenha sido sua nesses últimos dois anos, . E você já devia ter superado o pé na bunda que ela te deu.
- Ao menos, eu não fui só uma noite de bebedeira, - soltou e se divertiu ao ver o outro arregalar os olhos, surpreso. - Oras, você achou que eu não sabia? E, bom, você não deveria ter superado apenas uma noite?
Soou maldoso. Maligno. teve que ter muita paciência para não socar-lhe a face.
- Ela é minha amiga, . Fui eu que a escutei reclamar de você durante os quatro meses que vocês namoraram. - ele suspirou. - Eu sei o que ela gosta, eu sei o que ela quer e você não parecia se preocupar muito com isso. Quer brigar por ela? Tudo bem. Mas aviso uma coisa: Eu vou ganhar.
Os dois se estranharam, encarando-se por alguns segundos.
- Meninos? - A voz de chamou a atenção dos dois. Ela apareceu na extremidade do corredor, segurando um pequeno chip de mídia. - Vocês... Ahn... - Ela percebeu o que estava acontecendo e perdeu o foco da pergunta.
deu um passo para trás e, olhando pra ela, sorriu.
- Precisa de ajuda? - perguntou.
Ela concordou com a cabeça, mordendo o lábio. Olhou para , em um pedido mudo de desculpas, quando passou o braço pela sua cintura.
seguiu-os de perto e sorriu longamente quando, muito mais rápido do que ele pensava, arrumou uma desculpa qualquer para tirar a mão de de sua cintura. lançou-o um olhar maligno quando ouviu sua risada anasalada contida.
Escolhido os filmes e passado todos ao chip de mídia que escolhera, eles voltaram para casa e não encontraram ninguém.
- Ué, - murmurou, tentando entender o que estava errado.
Ela subiu as escadas, enquanto os rapazes sentavam-se ao sofá e começava a socar os botões de ligar a projeção que, aparentemente, não funcionava.
Na ponta dos pés, caminhou até a porta que ela se lembrava ser o quarto de , o primeiro lugar em que pensara ao ver que ele não se encontrava junto aos papéis jogados à porta da sua sala de pesquisas, e empurrou a porta vagarosamente.
Ela precisou tampar a boca pra não emitir nenhum som, de choque ou admiração, ao ver e deitados juntos, dormindo. Ele com a cabeça sobre o colo dela, a mão ligeiramente displicente sobre sua cintura enquanto ela mantinha as mãos afundadas em seu cabelo.
Com um sorriso esclarecedor, ela voltou a fechar a porta e descer as escadas, ouvindo uma certa movimentação vindo da sala. Ao descer as escadas, ela viu literalmente socando o braço do sofá, onde encontrava-se os botões que controlavam a projeção, e tampando a boca com força para não rir.
Arriscando um sorriso e mordendo o lábio para que este não virasse uma gargalhada, ela se aproximou.
estava praticamente enfiando a mão dentro do controle remoto de tão forte que ele apertava os botões e nada funcionava.
- Já parou para ver se está ligado na tomada? - perguntou com um sorriso de quem conhecia o suficiente para saber que aquele sacrificio todo poderia estar sendo inútil.
Ele parou de socar só mais um pouco para olhá-la quase que com raiva. A luta com o controle remoto estava deixando-o mais irritadiço que o normal.
- Já, Senhora-Eu-Sei-Tudo. - Ele disse - Conferi isso antes de ligar.
Dando de ombros, ela voltou para perto de que alisava a barriga definida, erguendo a camiseta quando a menina sentou-se ao seu lado.
- Estou com fome. - disse.
Ela arqueou a sobrancelha pra ele, perdendo um pouco o olhar em sua barriga exposta, sacudindo as lembranças que surgiram em sua cabeça. Tentando não morder o lábio, ela suspirou.
- Bem, disse que não tem nada na geladeira e nos armários, mas posso ver se acho alguma coisa comestível pra gente.
Ele abriu um sorriso lindo do tamanho do mundo.
- É por isso que eu te amo, querida.
sorriu para e se virou para os dois, furioso. Ele quase urrou de raiva vendo a garota ficar vermelha e abaixar a cabeça enquanto ia para a cozinha procurar algo para comer. encarou o amigo por mais alguns instantes com o olhar mais raivoso possível e depois voltou a tentar ligar a projeção que insistia em não funcionar, mesmo ele tentando arduamente.
virou a cozinha de ponta cabeça em busca de algo que ainda poderia se encaixar na categoria alimentícia, mas nada parecia dentro do prazo de validade. O que tinha estava estragado ou nem ao menos existia. Quando estava quase desistindo, encontrou um pacote de pipoca para microondas.
Contente por toda a busca não ter sido em vão, ela colocou o pacote no microondas e apertou o botão de um minuto por três vezes, mas logo percebeu que estava apertando em vão, já que o microondas nem ao menos estava ligado. Ela olhou para a tomada, para ter certeza de que o aparelho estava plugado ali, e realmente estava.
Apertou mais algumas vezes, mas nada aconteceu.
- . - chamou - O projetor funcionou?
Ela ouviu um barulho e o garoto chegou correndo na cozinha, como se ela tivesse gritado "fogo". Ele só pensara que era uma oportunidade imperdível de ficar sozinho com a garota.
- Ainda não. E nem o aparelho de som. - ele deu uma olhada dentro da geladeira onde a pequena lâmpada que havia ali estava apagada e deu um chute no eletrodoméstico antes de completar. - E nem essa geladeira.
Para a raiva de aumentar e se propagar, chegou à cozinha, parecendo despreocupado, com as mãos nos bolsos. Este pensou que não poderia deixar e sozinhos. Mas só porque ele não confiava em , é claro.
- O que está acontecendo? - Perguntou
- Nada está funcionando, . - respondeu, docemente e deixando quase corado de tanta raiva - Será que cortaram a luz daqui?
Ele franziu a sobrancelha, batendo palmas pra ver se a luz da cozinha acendia. Nada aconteceu.
- Impossível. - ele respondeu aproximando-se mais de quando viu que ia fazer o mesmo. - é responsável demais para deixar isso acontecer.
Antes que qualquer um dos dois pudesse dizer algo, e entraram correndo pela porta da cozinha com vários pacotes de compras nos braços e encontraram todos com caras assustadas.
- Eu trouxe bastante coisa pra gente comer. - disse desempacotando as coisas em cima da mesa, enquanto se perguntava o que estava acontecendo. - Vai ligando o fogo, , eu pego o macarrão e a gente faz uma macarronada pra galera.
andou calmamente até o fogão e tentou ligá-lo, mas não funcionou. Ela tentou mudar o bocal do fogão e mesmo assim não deu certo. Depois de ter tentado os quatro bocais, vendo que não funcionava, ela virou-se para , que a observava, e deu de ombros, sem pronunciar nenhuma palavra ainda.
- Poxa! O não pagou a conta de luz? - Essa foi a conclusão de .
Se o clima fosse mais descontraído, todos os outros ririam. Se isso se tratasse de qualquer outra pessoa, seria engraçado. Mas era sobre , o responsável. Ele nunca iria deixar de pagar as contas e se isso tinha acontecido, bom, era algo para se preocupar. E muito.
- Acabei de perguntar o mesmo! - disse procurando nas gavetas por alguma conta paga. - Acho que talvez, com toda essa coisa de férias, ele não tenha pago. Não podemos culpá-lo. Ele deve estar com coisas mais "importantes" na cabeça.
Ela viu todos balançarem a cabeça em entendimento, nenhum deles mudando a feição preocupada.
- Pode ser. - concordaram.
Saíram todos a procurar pelas contas recentes, se dividindo para encontrarem mais rapidamente. e procuravam na cozinha, procuraria na sala e tentaria ver se alguma coisa funcionava em outro cômodo e e procurariam no escritório de .
não gostara nada da divisão, mas, ainda assim, procurara pela sala inteira, chegando até mesmo a erguer as almofadas e tapetes, mas não achou nada ali. Quando estava terminando a sua busca, e chegaram e anunciaram que não haviam encontrado absolutamente nada. Na verdade, anunciou. nem sequer abriu a boca.
- Ok. Vamos ver se e acharam algo. - disse, mais preocupado com o que os dois estariam fazendo que com as contas.
e não tinham achado a conta, mas acharam todos os trabalhos e projetos de espalhados pela mesa dele. Nas folhas que estavam na mão de , detalhava toda a trajetória da anã marrom até a sua máxima aproximação, marcada para os próximos meses. E nos cantos da página ainda haviam alguns gráficos de velocidade.
Nas mãos dela, estavam as listas com as possíveis consequências que a chegada da estrela traria. Entre elas a recente falha de todos os aparelhos elétricos por causa da inversão da polaridade da Terra.
- , eu... Acho que o estava certo. - ela chamou o garoto e apontou para as anotações nas folhas em suas mãos.
- Acharam a conta? - perguntou da porta, seguido por e . O garoto estava irritado com a proximidade de e , mas decidiu não falar nada sobre isso, não na frente de e sua namorada.
- O que está acontecendo aqui?
Todos se viram de uma vez para a outra porta do escritório onde perguntava para todos com uma expressão zangada - e de sono - por ver todos em seu escritório.
- O que está acontecendo é a gente que pergunta. - gritou de volta. - Quase perdi minha vida lutando contra aparelhos domésticos que não funcionam.
- É. - empossou - Nada está funcionando.
olhou para e e para os papéis em suas mãos e sorriu espertamente, dizendo apenas:
- Mas vão funcionar.
O sorriso assustou todos os outros, que se entreolharam sem nada entender.
CAPITULO DOIS
- Como assim “mas vai”? – foi o primeiro a perguntar, rangendo os dentes. Sua namorada, , olhava dele para com as sobrancelhas levantadas, como se as coisas ainda não estivessem fazendo todo o sentido para ela.
deu de ombros e jogou-se contra sua cadeira de estudo, tentando reorganizar os papéis que e andaram mexendo. Ele bufava e resmungava sobre a falta de educação dos dois, o suficiente para empurrá-lo contra a mesa, fazendo com que ele batesse com a barriga na quina da mesa e arfasse.
- Não faz isso com ele, – ralhou com ela. Quando ela ia abrir a boca para reclamar, ele deu um tapa na cabeça de – É assim que se faz, está vendo?
Todos riram, menos , que era o alvo, e , que não sabia se ria, se ficava preocupada ou se sentia dó dele.
- Mal educados – resmungou pros dois – Vocês, realmente, se merecem.
Quatro coisas reparáveis aconteceram no momento: Enquanto , e caiam na gargalhada do que era mais que óbvio, corava da cabeça aos pés e, ao seu lado, meio que estufava seu peito de orgulho, levando aquilo como um elogio. Já emburrara-se e podia-se apostar que o garoto arrumaria a primeira desculpa viável para discutir com o rival.
- Mas, ... – tentou controlar seu rubor e mudar de assunto para poupá-la. – Sem brincadeiras agora. Como assim as coisas vão começar a funcionar? Quando?
Ele levantou a sobrancelha pra ela, como se ela fosse meio estúpida por não ter entendido ainda a lógica que ele estava tentando demonstrar. E, então, ele olhou para os amigos e todos eles pareciam também não entender. Não era estupidez, era a mesma ignorância que ele vira na NASA, misturada com a arrogância, ele via nos amigos, mas com um tom mais infantil de curiosidade.
Para sua surpresa, não foi ele que deu a resposta correta à .
- Quando ela chegar.
Ele olhou para a namorada de , pela primeira vez realmente a vendo. Ela aparentava deslocada, mas não parecia mais tão assustada quanto antes, ao menos não se escondia mais atrás do namorado, mas ainda segurava seu braço com força, como se estivesse prestes a fazê-lo. E ela acabou escondendo-se um pouco por ter capturado os olhares de todos.
Ela não parecia o tipo de pessoa que teria aquela informação, mas ela a tinha e aceitava. Isso era o suficiente para ganhar a admiração de .
- É. – concordou.
O silêncio se fez na sala enquanto e meio que se olhavam, tentando se reconhecer. acenou com a cabeça para ela, em reconhecimento e ela repetiu o gesto.
- Ela? – quase esganiçou-se, tentando quebrar, de alguma forma, o contato visual que rolava entre os dois. E conseguiu porque voltou-se a ela quase instantaneamente ao ouvir sua voz. Ele tinha os olhos fixos nela, quase magoado por ela também não entender – Ela quem?
- Nêmesis. – e responderam em uníssono, seguido de um suspiro meio apaixonado de ambos.
Enquanto todos os outros encaravam-se – e encarava como se ela estivesse precisando entrar em um tratamento intensivo – sem entender nada do que eles estavam falando e com medo de perguntar mais alguma coisa e acabarem reparando que eles estavam mais malucos do que realmente pensavam, tirou o Iphone 3000 do bolso da calça e o abriu em uma tela de projeção. parou em seu lado enquanto a garota abria o velho e adorado Google para uma pesquisa.
- Nêmesis, a estrela da morte – leu, enquanto levantava a sobrancelha – Não era esse um dos motivos do nunca-existiu-mentira-mais-irritante-de-fim-do-mundo-2012?
Eles se entreolharam.
- É, foi isso - respondeu. - Eu estudei sobre isso, vagamente, na faculdade.
E, então, ela olhou para . De alguma maneira, ela se sentiu culpada por aquilo estar acontecendo com ele porque, em alguma tarde fria, anos atrás, ela lhe apresentou o assunto pelo qual ele desenvolveu a obsessão. percebeu o olhar dela e acenou com a cabeça, confirmando, como se os pensamentos dele também tivessem se voltado para aquela tarde.
- Ela existe - disse, olhando para . - Não era um mito. Ela só esteve muito longe pra ser encontrada e a nossa tecnologia não consegue encontrá-la porque ela é fria. Mas ela pode acabar com a gente quando ela quiser. Por favor - Ele implorou, olhando pra cada um dos amigos - Acreditem em mim. Eu sei que eu estou certo.
Com dó, todos olharam pra ele.
- Você está maluco, cara! - disse. ainda socou-lhe o braço, mas não deu certo.
olhou, meio em pânico, para que negou com a cabeça e, então, olhou pra que abaixou a cabeça e saiu do escritório.
- Ótimo - Ele disse. - Vocês vão descobrir por si mesmos em breve.
Com raiva, ele saiu empurrando e sumiu pela porta.
- EI - ainda reclamou.
- Você o chamou de maluco, man - socou seu braço. Então, olhou pra - E nós dois temos que conversar.
Ela mordeu o lábio e deu de ombros.
- Ok, não temos nada eletrico, então... - coçou a cabeça - Vamos comer?
Murmuros de concordância seguiram e todos se espremeram para sair do escritório, falando sobre uma gigante pizza hut que tinha por ali perto e vários 'nham nham' de felicidade. Mas, ao chegarem na porta, descobriram que não iam conseguir sair pois estava trancada.
- Procurando alguma coisa? - disse, do pé da escada.
Ele girava a chave nos dedos, sorrindo sadicamente.
- Sim, nós queremos sair pra comer pizza - disse - Você pode ir também, vamos?
arqueou a sobrancelha e agarrou a chave com as mãos, colocando no bolso.
- Não, ninguém vai sair - Ele disse. - Vocês podem não acreditar em mim, mas eu não quero ninguem por aí quando as coisas começarem a acontecer. - Ele encarou a face assustada dos amigos e estufou o peito - Eu me importo com vocês, embora vocês não pareçam se importar com as minhas crenças. O telefone fica ali - Ele apontou pra mesa da sala - E ele funciona. Vocês podem pedir a pizza e eu abro a porta para pegar e tudo mais. E eu vou estar no meu quarto.
Magoado, virou-se e subiu as escadas, desejando que aquele dia não tivesse começado. Desejando que suas contas estivessem erradas e seus amigos certos. Desejando que ele fosse maluco. E desejando que suas vidas não tivessem que mudar completamente no dia seguinte.
Na sala, eles debatiam se deveriam ligar pro hospício e pedir pra levar . A única que reclamava em alto e bom som contra era .
- Ele só está desorientado! - Ela reclamou - Dei-lhem alguns dias! Vai passar!
Ela esperava que uma boa conversa talvez funcionasse com o garoto.
- Ele está maluco! Maluco! - fazia sinais com a mão, que indicavam a insanidade do garoto - Se esperarmos mais, ele vai enlouquecer todos nós! Trancados em casa? Por favor!
- tem um ponto - interveio a favor da garota que suspirou aliviada, mumurando um 'obrigada!', mas ele só queria contrariar - Talvez só devamos esperar mais uns dias pra ver o que acontece, se ele não melhorar, a gente procura ajuda profissional. Não hospício.
, incrédulo, encarou meio abobalhado.
- Ora, é claro que você quer esperar mais uns dias! - Ele quase berrou - A não está te ignorando aqui, como esteve nos últimos anos, está?
apertou os punhos com força, tentando se controlar, mas quando ele falou, sua voz estava arrastada por causa dos seus dentes juntos.
- E não é como se você não estivesse se aproveitando que ela não quer brigar com ninguém pra não assustar o , não é babaca?
- ORA, SEU...
- PAREM! - berrou, o grito parou os dois porque eles ouviram, antes de verem, suas lágrimas - Vocês dois inúteis não vão crescer? - Ela murmurou. - Estamos aqui por . Não porque sei-lá-o-que-vocês-estão-pensando! E, quer saber? Eu não quero papo com nenhum dos dois enquanto não agirem como adultos!
E ela virou-se com força e saiu da sala à procura de um quarto pra ela, batendo os pés e murmurando algo como 'será que eles pensam que são os únicos caras do mundo?'
encarou a garota sumir, meio chocado, passando a mão pelos cabelos e jogou-se em uma poltrona, bufando.
- Bom, gente... - tentou quebrar o gelo - Agora é só esperar, certo?
E fazendo careta, ele arrastou pelo mesmo caminho que fizeram apenas alguns segundos antes.
A noite caiu e, com ela, a chuva veio, mais forte que o normal. , temendo que esse fosse um dos sinais, não conseguiu dormir. Ele se cansou de ficar rolando na cama e desceu as escadas, procurando algo em uma das únicas coisas que funcionavam na sua casa, uma geladeirinha dentro do seu escritório, onde tinham algumas coisas com que ele podia sobreviver.
Ele encheu seu copo favorito, um cometa cruzando a circunferência, com leite e se sentou em sua poltrona, encarando o painel à sua frente. Ele tentara reproduzir os calculos de aproximação de nêmesis ali e, se ele estivesse certo, ela estaria atravessando o cinturão de orion aquela noite. E a única coisa que ele conseguira fazer fora prender os amigos em casa.
- É ela, essa chuva, não é? - Uma voz perguntou.
virou-se assustado. Achara que todos os seus amigos estavam dormindo. E não conseguira reconhecer de antemão a voz de , afinal, ouvira a voz da garota pela primeira vez naquele dia. não era uma pessoa que falava demais, mas ao contrário do que pensara, conhecia demais sobre aquele assunto.
- Sim. Está leve ainda, porque apenas a ponta da estrela ainda não atingiu a exosfera. Mas em breve começarão a cair os pequenos fragmentos da estrela que se soltarão com o atravessamento na atmosfera. E essa parte é a que mais me preocupa.
- Não sabia que ela entraria no Orion essa noite. Contava com mais uma noite de vantagem.
Ela se aproximou do painel de calculos e apontou certos dados ao garoto, que compreendeu do que ela falava. Os dados estavam corretos, mas ao que parecia, a estrela tinha adiantado a sua chegada à Terra, tornando quase inválidas as previsões dos garotos.
Oferecendo uma caneca de café à garota, que aceitou de pronto, perguntou-lhe como ela sabia tanto sobre Nemêsis e os calculos para a sua chegada.
- Sou astrônoma.
- Astrônoma?
- Sim, na verdade mais radioastronoma. Sabe, aquelas pessoas que estudam as radiações electromagnéticas emitidas ou refletidas pelos corpos celestes...
- Eu sei o que são radioastrônomos. - cortou ele rindo.
- Bem, eu sempre amei as supernovas, e buscava elas com todo o afinco. Até o dia que achei Nemesis. Ela me encantou.
- Digo o mesmo.
Os dois sentaram-se na mesa da cozinha, analisando papéis e anotações de e conferindo-as no painel, para terem a mais completa certeza sobre as próximas datas e danos que a estrela da morte traria.
Depois de quase duas horas de discussão, levantou-se para buscar café para os dois, que não pretendiam terminar aquelas análises tão cedo.
- Eu nunca pensaria que a namoradinha calada do fosse quem acreditaria em mim. - disse ele à , sem esconder na voz o quanto os amigos dele o decepcionaram por não acreditarem nele.
- Se eu não conhecesse a historia toda, também duvidaria. Pense nisso. Ninguém acredita no que não conhece, certo?
balançou a cabeça tendo que concordar com a menina, e riu quando ela voltou para a sala comentando:
- E eu não sou calada, apenas nunca falaram nada que me fizesse precisar de mais de uma palavra ou aceno de cabeça pra responder.
E rindo, os dois mergulharam nos montes de números e expressões intergaláticas, se perdendo naquilo que apenas eles conheciam tão bem.
No quarto, virou para o lado, com o braço esticado para abraçar a namorada e trazê-la para mais perto, mas seu braço bateu no colchão frio, o que atestava que já não estava mais na cama há horas. Coçando os olhos, olhou em volta à procura de , mas ela não parecia estar em nenhum lugar do quarto. Com a chuva que caia, com certeza, ela devia estar na varanda de baixo observando o céu nublado. Pois bem, ele desceria e a levaria para cama. Amá-la ao som da chuva na janela seria muito bom.
Ao sair do quarto, deu de cara com que olhava para todos os lados como se procurasse por algo. Ou alguém.
- Procurando alguém, ?
- Ah! Que susto, Poynter! - ela sussurrou brava. - Estou procurando o . Não consigo dormir pensando no que ele deve estar sofrendo com a nossa descrença.
balançou a cabeça, assentindo e desceu as escadas, silenciosamente, ao lado de , cada um procurando uma pessoa, sem saberem que quem procuravam estavam juntos.
'Vai dormir, ' Eles ouviram a voz de dizer. arregalou pra e os dois se enfiaram no corredor entre a escada e a parede do escritório de , que levava aos fundos da casa.
'Não, ainda tem muita coisa pra fazer' Ela reclamou.
'Pelo contrário, não tem nada pra fazer' Ele disse. 'Você é ótima, garota. Bom saber que há alguém são nessa casa. Vá dormir, o dia vai ser longo amanhã'.
'Boa noite' A voz da garota soou e, em seguida, ouviu-se um beijo.
'Boa noite, ' soprou.
Eles viram, encolhidos, passar por eles e subir as escadas. Os dois se encararam sem saber como lidar com aquilo.
No segundo andar, tentava dormir, mas a luz que vinha da rua não deixava. Ela afundou a cabeça no travisseiro e se escondeu, finalmente relaxando o suficiente para conseguir dormir. Mas, antes que ela conseguisse pegar mesmo no sono, ela ouviu a porta de seu quarto se abrindo.
meio que se sentou na cama e antes que ela pudesse murmurar um 'o quê?', lábios encostaram-se aos dela e ela arregalou os olhos, tentando empurrar. A luz de lá de fora fez com que ela indentificasse e ela acabou tentando socá-lo, mas não conseguiu.
Então ela pensou que, bom, eles já estavam brigados mesmo... Fingindo corresponder, ela tateou o celular na cabeceira e discou #3, discagem automatica. Ela nunca havia tirado dali. Então ela abandonou o celular, rezando que entendesse quando ela não falasse nada e viesse parar porque ela não estava consequindo e ela não tinha ideia de até onde aquilo podia chegar.
- Pára - Ela choramingou.
- Pára você de doce! - gritou pra ela, sem parar de tocá-la e tentando de todo jeito deitá-la na cama e deitar-se por cima dela.
A garota choramingou e tentou empurrá-lo, enquanto ele mordia seu lábio.
- , o que...? - empurrou a porta e arregalou os olhos e abanou as mãos, tentando fazer com que ele percebesse que aquilo estava errado - Me desculpe, acho que estou atrapalhando.
- Está sim - murmurando, voltando a beijá-la.
Em pânico, conseguiu empurrar por tempo o suficiente para gritar: - ME AJUDA!
agarrou-a com mais força, forçando sua boca contra a dela. Por cima dos ombros dele, ela conseguiu ver congelar à porta, os punhos fechados, antes de voltar-se pra eles e começar a andar decidido até os dois.
Ela suspirou aliviada ao sentir puxar de cima de si e, então, a próxima reação dela foi segurar por trás, pela cintura, evitando que ele voasse em cima de e machucasse-o.
- Estamos aqui pelo , por favor - Ela murmurou, na ponta dos pés para fazê-lo em sua orelha.
respirou fundo e parou de tentar sair do abraço dela, o suficiente para que ela o soltasse. Então ele se sentou em sua cama, passando a mão nos cabelo.
- Só vai embora, cara - disse a .
olhou pra com raiva, levantou-se e foi embora.
sentou-se na cama, ao lado de e ele passou o braço pela cintura dela, protetoramente, olhando para o nada.
- Me desculpe - Ela murmurou - Eu não sabia o que fazer.
- Tudo bem - Ele murmurou. - Você tem um travisseiro extra?
Ela arregalou os olhos pra ele e concordou, meio sem jeito.
- Ótimo. - Ele pegou um travisseiro e escorregou até o chão. Ele logo adormeceu, mas não conseguiu dormir tão cedo, atormentada por flashbacks do que acontecera mais cedo, dando graçar por tê-la salvo.
A manhã nasceu cinzenta. E não haviam nuvens, mas, de alguma forma, o Sol estava fraco em pleno verão. Para e , aquilo era um sinal. E cada um tentava levar aquilo de uma forma. , causando estranhamento em , principalmente com o que ele ouvira na noite anterior, mas o que era realmente estranho era que não desgrudava do namorado e sussurrava umas coisinhas bonitinhas pra ele, que o faziam sorrir e sussurrar coisinhas bonitinhas de volta. estava tenso. Ele queria fazer algo parecido com aquilo com , mas não podia. Ele só fechava os olhos e mexia seu leite sem parar, olhando as escadas e esperando que ela descesse. Ele vira descer logo atrás de agarrada ao braço de e olhando assustadoramente pra trás. E, depois de longos minutos de espera, ele a viu.
Ele tinha que fazer, ele precisava. Não sabia o que poderia acontecer daquele dia em diante.
- Preciso falar com você - Ele disse, levantando-de, assim que ela entrou na cozinha.
Ela arregalou os olhos, mas concordou com a cabeça. Ele, meio indeciso, colocou sua mão em sua cintura e a guiou até seu escritório. fechou a porta com todo o cuidado e preferiu não se sentar, parando ao lado de uma poltrona e olhando fixamente para o garoto, esperando pelas palavras dele.
- ... - chamou - Eu não estou louco. Eu juro. Sei que pareço um lunático que está tornando tudo pior prendendo vocês aqui, mas é porque eu amo todos vocês e não suportaria perdê-los, mesmo estando profundamente magoado com a falta de fé que vocês têm em mim.
- Queremos acreditar, , mas parece absurdo demais até para nós.
- Mas é real! - ele quase gritou. - Eu juro que é real.
- Eu...
- Mais alguns dias. Me dê mais alguns dias para provar à vocês que eu estou certo. Só mais alguns dias e todos vocês acreditarão em mim. Por favor.
segurou as mãos de entre as suas e a menina olhou para os dois pares de mãos unidas, como ela achava que deveria ser para sempre. Daria mais alguns dias para , mas tinha medo do que mais ele poderia fazer estando tão louco daquela forma. As atitudes dele a surpreendiam. No momento os trancavam dentro da casa, no outro era doce com ela, dizendo que queria o bem de todos. Era estranho demais para ela.
- Mais alguns dias apenas, .
Com um sorriso que mostrava a perfeita covinha em seu rosto, puxou para um abraço apertado que foi retribuído pela garota e em poucos segundos, os olhos de um já estavam fixos no do outro, as respirações se misturavam e os lábios estavam próximos de mais para que um beijo não acontecesse.
Mas não aconteceu, porque no exato momento em que seus lábios se tocaram, sentiram o tapete tremer de leve. ergueu uma sobrancelha para o garoto, indagando silenciosamente o que estava acontecendo e ele afastou-se dela saindo de cima do tapete e prestando atenção ao que estava acontecendo. O tremor estava aumentando de intensidade e ele já podia ver os pequenos porta-canetas de cima de sua mesa, que antes vibravam suavemente, chacolharem com mais força.
- Pra debaixo da mesa, . Agora! - gritou.
- O que está acontecendo?
- É agora. - ele sorriu. - É agora.
CAPITULO TRÊS
se agarrou ainda mais ao braço de que segurou a xícara precariamente sem entender o que acontecia. Tudo estava tremendo. Dentro dos armários os copos e pratos tilintilavam sem parar, vibrando com o tremor que vinha da Terra. ergueu os pés do chão, pensando, por alguns segundos, que eram os seus pés que faziam aquilo, de tanto ódio por ver e tão juntos, mas acabou descobrindo que não era ele.
ainda brincava com a namorada, dizendo coisas fofas em seu ouvido, quando percebeu que ela não prestava mais atenção nele. Seu olhar estava direcionado para a janela e seus lábios se moviam depressa como se estivesse rezando ou calculando algo.
- Se eu estiver certa, e tenho quase certeza que estou, a intensidade dos tremores aumentará em três... - sussurrou para si mesma - dois... um.
Imediatamente o chão começou a tremer com mais força e os copos no armário praticamente se batiam, levantou-se nervosa e olhou em volta procurando um bom local para esconder-se do Terremoto.
deu um berro e agarrou-se metade à e metade à mesa, sem saber o que fazer. Ele, mantendo-se mais calmo do que qualquer um ali - estava jogado ao chão com as mãos na cabeça, e corriam para fora da cozinha - agarrou o braço da garota e arrastou-a pelo mesmo caminho que e fizeram.
e viraram o sofá grande sobre eles, e , que haviam chegado a sala com a mesma intenção. Não caberia mais gente, então ele a empurrou pra debaixo da poltrona e se encolheu ao lado dela, virando o móvel sobre os dois. Todas as garotas estavam tremendo, até mesmo que já estava emocionalmente preparada para o tremor. Os rapazes tentavam acalmá-las de alguma forma, mas como estavam tão nervosos quanto - mas sendo menos escandalosos e muito mais controlados no sistema nervoso - não obtinham muito resultado.
Um tremor mais forte sacudiu a casa e a luz da sala piscou duas vezes, fazendo e se entreolharem.
- É a inversão dos pólos - Ele tentou dizer, fazendo com que todos o ouvissem - Como eu disse.
A luz piscou mais uma vez e, então, manteve-se acesa. beijou atrás da orelha, como ela sabia que era um de seus pontos favoritos, e sussurrou:
- Desculpe por não acreditar em você.
Ele concordou com a cabeça e olhou por debaixo do braço do sofá, checando o estado da casa, enquanto o chão parecia querer estabilizar, mas balançando como se fosse gelatina.
- Acho que ganhamos uma certa instabilidade no terreno - disse, dando voz aos pensamentos de , que apenas concordou com a cabeça, empurrando o sofá para sair dele.
- Acho que ficaremos com isso por uns dias - Ele sussurrou - Acabou, por hora, gente. - Ele aguardou que e também saíssem de debaixo da poltrona pra continuar - Onde está ?
Todos, além dele e de , apontaram para a cozinha, onde haviam o visto da ultima vez. E para o pavor de todos, um filete de sangue parecia escorrer de lá, em direção à sala.
- Meu Deus - Foi a única coisa que alguém, no caso , pode dizer.
deu um grito meio esganiçado e desvencilhou-se de , com certa dificuldade porque o garoto não estava a fim de facilidade para , mesmo que ele estivesse machucado... Ou morto. Ela levantou-se e correu para a cozinha, fazendo bufar.
Os outros a seguiram - exceto , cuja a definição correta seria “foi se arrastando” e encontraram gemendo com a uma mão sobre a costela e a outra meio caída com uma faca suja de sangue na mão. O faqueiro estava caído ao lado dele, o que mostrava que o terremoto havia jogado a faca com força contra ele.
ajoelhou-se ao lado do corte do garoto e, com cuidado, retirou a mão dele de cima do machucado, só então percebendo que havia ajoelhado em uma poça de sangue.
- , , você está me escutando? - Ela perguntou. Ele gemeu, então achou que ele estivesse. Ela levantou o olhar para os amigos que se aproximavam - O corte é um pouco profundo e ele perdeu bastante sangue porque ele tem aquele probleminha de estancamento. Eu preciso... Preciso de coisas! - Ela resmungou, tentando rasgar o resto da camisa do garoto pelo corte da faca - Preciso tirar sua blusa, , por favor, vou tentar não mexer muito. ? - Ela implorou ao garoto.
Com um bufo de resmungo, o garoto cruzou os braços, revoltado enquanto ela se distraia, tirando a camisa de sob os gemidos dele.
- Eu... Eu preparei um kit - gaguejou. Ele não gostava nem um pouco de ver sangue - Vou pegar.
Ele saiu correndo da cozinha e todos ficaram com a impressão de que ele não tinha a intenção de voltar. Então, revirando os olhos, o seguiu para que ao menos o Kit tomasse o caminho do ferido.
- ? - chamou-o outra vez, a voz alterada pela impaciência. Só então ela levantou o olhar para encará-lo de braços cruzados e emburrado - O que você pensa que está fazendo? - Ela quase berrou - Você fez uma merda de juramento!
Ele bufou, descruzando os braços.
- Meu juramento foi de salvar vidas e eu não preciso salvar vida nenhuma porque ele já tem uma ótima médica cuidando dele. - Ele disse.
tentou conter o sorriso de auto-orgulho, mas acabou sorrindo de lado, ouvindo a risada de . Então ela suspirou, tentando pressionar o resto da camisa de contra o machucado para estancar, mas ela apenas conseguiu se sujar mais de sangue.
- Ok. - Ela murmurou, levantando o olhar pra - Eu realmente preciso de você, . - Ela levantou as mãos, emplastadas de sangue, mostrando o tanto que ela tremia - Eu não vou conseguir costurar.
deu um gritinho meio contido por causa das mãos de e puxou para sair da cozinha, enquanto e os olhavam com cara de quem não estava entendendo nada. Pra eles, que chegaram a estagiar juntos em uma emergência cirúrgica, aquele tipo de conversa, com as mãos cheias de sangue e ainda fazendo alguns sinais, era a coisa mais natural do mundo.
- Tá bom - murmurou, assim que eles saíram. - Mas não me culpe se eu costurar coisas a mais.
revirou os olhos, desistindo de apertar o pano contra o machucado de por causa dos gemidos dele e se contentava em tentar limpar um pouco o entorno do machucado. Ela estava evitando por as mãos em contato porque não havia lavado-as antes, coisa que estava fazendo nesse momento.
- Você não vai - Ela disse, assim que ele sentou-se ao lado dela, tirando o pano da mão dela pra poder olhar o corte melhor.
Ele fez careta ao encarar a profundidade do corte, e encarou a garota que apenas suspirou. Os dois sabiam que talvez não tivessem ferramentas para cuidar daquele tipo de ferimento ali. precisava de um hospital.
- Você não pode ter certeza disso - murmurou, mas ele não estava mais prestando muita atenção na conversa.
se levantou e afundou os braços na água da torneira da cozinha, limpando todo o sangue das suas mãos e que escorreu pelo seu braço, para depois lavar-se com sabonete, não ficando muito satisfeita.
- A gente precisava de álcool em gel - Disse. concordou com a cabeça - Bom, eu tenho certeza porque você vai prometer isso pra mim.
parou de tentar analisar o machucado - e devia dizer que ele não estava muito preocupado em não fazer sentir dor - e olhou pra garota, que sorria enquanto secava os braços em um pano de prato que havia encontrado dentro de um armário.
O chão balançou um pouco mais forte e ambos se seguraram da maneira que podiam até que o terremoto ficasse mais parecido com um balanço de barro que um terremoto em si. Quando isso aconteceu, eles retornaram ao que estavam fazendo como se nada tivesse acontecido.
- Tudo bem - disse - Você é muito chata, garota. Não vou costurar nada a mais. - Ele olhou pra ela, meio abobalhado, vendo-a se sentar ao seu lado. Então ele sacolejou a cabeça e voltou a encarar - Você acha que ele desmaiou?
Ela suspirou, pegando a mão de e tirando-a do machucado para que ela mesma pudesse examinar.
- Eu não duvido - Sussurrou - Você viu a quantidade de sangue que ele perdeu? - concordou com a cabeça - Você acha que a faca pegou algum órgão? - Ela perguntou, apalpando o entorno do machucado, tentando sentir algo de incomum.
- Não, a costela protegeu - respondeu-a. soltou um ‘Ai meu Deus!’ ao mesmo tempo que ele continuou - Mas acho que ele conseguiu quebrá-la.
parou de tentar descobrir algo em para estapear .
- Por que você não me avisou? - Ela rosnou.
Ele apenas riu.
- Você não perguntou, garota - Ele continuou rindo, enquanto ela resmungava o quanto ela queria esganá-lo. E então suspirou, tomando um ar mais sério - Ele precisa ir à um hospital. E, bom, nós também.
encarou , concordando com a cabeça, os dois imaginando quantas pessoas mais deviam estar no estado de , talvez pior. Eles, com certeza, seriam muito bem aceitos em qualquer hospital que fossem, no momento.
- Espero que isso não seja muito urgente - disse, entrando na cozinha e se intrometendo no último pedaço da conversa - continua dizendo que ninguém pode sair até o dia clarear.
- Clarear? - perguntou, confusa, enquanto pegava a maleta de primeiros socorros.
Só então os dois olharam pela janela e viram o breu que estava lá fora.
- Ele tentou me explicar, mas eu não entendi muito bem. Parece que esse terremoto mudou o Norte e o Sul e agora nós temos o fuso horário da Rússia. Ou algo assim. Mas ele também não sabe quanto tempo a noite pode durar agora. Pode ser mais rápida. Ou muito longa.
olhou para , meio confusa. Ela mordeu o lábio enquanto ele ainda examinava a caixa de primeiros socorros.
- O que você acha. ?
- A gente limpa, costura, enfaixa e reza para que ele tenha ótimos anticorpos - Ele respondeu - E dá muita comida de doente pra ele porque...
Concordando, os dois começaram a trabalhar, deixando um pouco nervosa, o suficiente para ela tomar o caminho da sala com os outros, encontrando e ainda tentando explicar algumas coisas sobre o que havia acabado de acontecer com o planeta. E o que ainda poderia vir a acontecer.
Ela se sentou em um lugar que achou confortável, mas que, na verdade, era o mais próximo de que poderia ficar, visto que ele cruzava uma linha à frente dela, andando de um lado para o outro enquanto parecia quase dar uma palestra sobre o assunto que vinha estudando há anos e que podia presenciar o resultado. Ela desejou ter ficado do lado dele porque, enquanto todos achavam que ele estava ficando louco, ele continuou firme, planejando a sobrevivência deles.
Estava arrependida por ter sido preciso chegar aos extremos para que pudesse acreditar em . Devia ter feito isso antes, acreditado nele, estado ao lado dele.
- E o que você concluiu, ?
? Ele não deveria perguntar algo a ela? Certo que ela demorara a ver a verdade nas palavras e em toda aquela situação, mas o que custava inclui-la em toda naquele assunto. Quem sabe ela não tivesse uma boa idéia que resolvesse aquela situação toda?
- Bem, eu acho que provavelmente agora as noites serão mais longas e não mais curtas, pelo número exato da divisão entre a circunferência da Terra e a distancia entre a estrela e o planeta, não acha?
Os dois pararam se encarando, como se estivessem tendo a mesma linha de raciocínio que passasse da cabeça de um para o outro à procura da resposta para a pergunta levantada por . De repente eles arregalaram os olhos simultaneamente e correram para um grande quadro branco em um dos cantos, cheios de anotações e números que para e não poderiam ser mais aleatórios.
apagou o quadro com rapidez e deu um pincel atômico nas mãos de , e pegou outro parando no outro extremo do quadro, ambos fazendo várias anotações e cálculos tentando chegar ao resultado que os ajudaria a prever as próximas reações da Terra a aproximação de Nemesis.
olhou para que espelhava em seu rosto uma confusão de sentimentos e percebeu que a menina estampava tudo o que ele estava sentindo. Estava arrependido por não ter acreditado em , mas mesmo assim não estava tão contente com a aproximação dele e .
- Ela... Ela simplesmente entende ele. - disse ao perceber que os olhos do garoto estavam fixos na mesma direção que os dela estavam. - Pode ajudá-lo... Eu acho.
Por um segundo ou dois, parou para avaliar as palavras de e ficou indeciso. As canetas de e se bateram e eles riram, voltando aos extremos da lousa.
- Pode ser. - ele deu de ombros saindo da sala.
Talvez ele preferisse quando era a sua tímida namorada que conversava apenas com ele sobre estrelas e o quanto elas eram brilhantes e intensas como o amor dela por ele. Quando os olhos de eram apenas para ele. Ele queria que tudo voltasse a ser como era, quando não tinha estrela da morte e nem maluco para confundir seus sentimentos.
Subindo as escadas, teve de agarrar-se aos corrimões para não cair. As luzes piscaram duas ou três vezes e a escada mexia de um lado para o outro como se um gigante estivesse balançando-a. Pensou em descer rapidamente, mas não teve tanta coragem, continuando no mesmo lugar, agarrado com força ao corrimão mais próximo à parede. Menos de um minuto depois, ele estava em pé e a escada firme novamente, mostrando que o terremoto já havia passado.
Na sala, assim que o tremor começou, fazendo o chão sob eles oscilar como uma grande gelatina, largou o quadro e jogou o pincel de qualquer jeito perto da mesa, correndo para , abraçando a garota para que ela se sentisse segura.
Sabia como a garota reagia a situações extremas como era exatamente o caso daquela e sentiu que devia estar ao lado dela. Ele sempre estaria ao lado dela e esperava que se desse conta disso.
A garota aconchegou-se nos braços dele e suspirou ao sentir o perfume de em suas narinas, tão calmante como sempre e deixando com que ela se sentisse segura e acolhida. Era tão natural sentir-se acolhida nos braços de , que por alguns segundos ela se esquecera de que ao seu redor o mundo estava acabando e estava sangrando na cozinha. Não, ela não se importaria com nada naquele momento. Estava nos braços de , e não sabia por quanto tempo poderia ficar lá. Não sabia exatamente em que momento o mundo iria acabar, então deveria aproveitar. E não havia maneira melhor de aproveitar que nos braços sempre tão calorosos de .
Mesmo já sabendo daqueles “efeitos colaterais” da Terra, estava com medo. correra para proteger , no sofá e ela não sabia onde estava. A preocupação corroeu o seu coração, fazendo-a esquecer o medo. Por sorte o tremor durara pouco tempo e logo pudera ir atrás de , que encontrou parado na escada, tentando restabelecer o equilíbrio perdido pelo terremoto. Subiu os degraus apressada e segurou o pulso de , fazendo com que ele se virasse para vê-la. Depois do novo tremor, fora a vez da chuva dar mais uma vez o ar de sua graça, batendo contra as várias vidraças da ampla e bem iluminada casa de , fazendo o breu do lado de fora da casa parecer ainda mais ameaçador. Os olhos de procuraram os de e se fixaram neles de uma maneira intima que eles entendiam muito bem.
- Eu posso saber o que está acontecendo, e o que vai acontecer também, mas... - as palavras saíram com dificuldade de sua garganta estrangulada pelo choro que estava decidida a não deixar sair de seu peito. - eu estou com medo, .
O garoto sorriu e pegou a mão de colocando-a com carinho entre as suas e inclinou-se contra ela, sorrindo e lembrando-a de sua velha promessa.
- Eu disse estaria com você até o fim do mundo, não é? E aqui estamos nós. E não é agora que estamos finalmente no fim do mundo que eu vou deixar você. Estarei com você em todos os momentos, minha linda.
Ela abraçou-o com força e o beijou com fúria, sentindo as mãos dele largarem as suas e deslizarem para a sua cintura, acariciando-a como ela gostava. Os dois riram quando ele fez cócegas de leve em sua barriga e não precisaram de palavras para entender o que seus olhares estavam expressando. Os dois correram para o andar de cima, buscando desesperados, a porta do quarto deles.
Na cozinha, continuava desmaiado enquanto e mostravam porque tinham o talento para medicina. Eles trabalhavam bem juntos e sabiam exatamente o que o outro precisava e quando precisava.
conseguira encontrar o álcool em gel em uma das prateleiras que caira quando o novo tremor começara e ela e desinfetaram as mãos com pressa para continuarem os procedimentos médicos em .
Um trabalhava em conjunto completo com o outro, conseguira estancar o sangue e limpava o ferimento com o antisséptico encontrado no kit de enquanto o homem ao seu lado se preparava para dar alguns pontos superficiais no local. Não poderiam mexer mais profundamente no ferimento sem que arriscassem que fosse assolado por alguma bactéria, e ter aquele ferimento já não tão simples ainda mais infeccionado seria uma verdadeira loucura naqueles dias.
Assim que arrematou o ultimo ponto, já estava preparada para mais uma limpeza do local e para a aplicação do curativo, que ela já estava muito habituada a fazer. Quando o ferimento fora cuidado, na medida do que eles poderiam fazer com instrumentos e medicamentos precários, pediu ajuda a para que ela o ajudasse a levar para o quarto. Por mais que estivesse possesso com o garoto e desejasse costurar o “equipamento” dele para que ele nunca mais tentasse fazer nada com , ele havia feito o juramento de Hipócrates e cuidaria de qualquer vida em dano que chegasse até ele. E era o caso de naquele momento.
- Eu... Faço o quê?
- Leve o Kit para o caso de precisarmos dele quando o colocarmos na cama.
ainda suspeitava de que o sangue não estava totalmente estancado e por isso estava com medo de que uma nova hemorragia acometesse .
Por sorte nenhum tremor os apanhou enquanto subiam as escadas e conseguiram colocar na cama, ainda desacordado, e sem que uma nova hemorragia começasse. O curativo tinha algumas marcas de sangue mas nada muito alarmante.
Assim que colocou o outro na cama, arrumou seu corpo entre os lençóis e afofou o travesseiro para que ficasse em uma altura boa o suficiente para não prejudicar ainda mais as costelas já feridas de .
- E como faremos com as costelas?
- Precisamos esperar que ele acorde para darmos algum comprimido que tire a dor que ele sentirá. A fratura não foi muito grave, mas garanto que ele sentirá dor por mais alguns dias.
“Nada mais justo.” Pensou . Ele estava recebendo o pagamento por ter sido tão desrespeitoso com . Aquela garota merecia mais do que aquele otário dera para ela. podia ser seu amigo, mas não negaria o quão babaca ele era quando o assunto era .
E percebeu que não era tão diferente. Ela conseguia tirá-lo de orbita. No momento seus olhos não conseguiam se fixar em outra coisa que não fosse os movimentos graciosos e suaves que ela realizava enquanto arrumava o quarto para acomodar da melhor maneira possível.
Estava hipnotizado por aquela mulher. Mas nem por isso agiria como . Seria respeitoso com ela, mostraria o seu amor da melhor forma possível, faria de tudo para respeitar o momento dela. Quando tivesse de ser seria. E não se. Ele sabia que com não haveria um “se”. Ela também nutria alguma coisa por ele, e tudo o que precisava fazer era convencê-la a mostrar aquele sentimento.
- Acho que deveríamos fazer um chá ou qualquer coisa, não? Ajudará o organismo dele a digerir o medicamento contra a dor.
- Vamos esperar ele acordar primeiro. - ele riu do afobamento da garota e quando a viu afofando o travesseiro pela quarta vez nos últimos instantes, passou o braço pelos ombros dela e a conduziu para fora do quarto, sob o som da chuva grossa batendo contra o vidro das janelas.
Ele fechou a porta com uma mão só, não querendo perder o contato com a pele dela.
Por sua vez, estava arrepiada e com o coração batendo de forma frenética por ter tão próximo. Ficara enrolando no quarto de para que não ficassem sozinhos e tão perto, mas não funcionara.
- Humm... Precisamos limpar aquela bagunça lá embaixo, né? - ela comentou, com o corpo quente por estar em contato com o de e viu ele a parar no meio do corredor, olhando profundamente em seus olhos.
- Precisamos conversar.
Ela olhou fixamente nos seus olhos e quase se perdeu ao ver que eles pareciam um poço sem fundo que mais e mais a tragava para dentro dele. Os seus corpos estavam se atraindo os deixando quase colados e de repente um grito ecoou no corredor.
- EU DESCOBRI! DESCOBRI! EU SEI QUANTAS HORAS VAI DURAR A NOITE! - entrou gritando no corredor, separando e que pularam um para cada parede do corredor, se afastando assustados e fazendo com que e colocassem a cabeça para fora do quarto.
- Por que diabos está gritando como um louco?
- Porque eu descobri quanto vai durar a noite.
saiu atrás dele, sorrindo ao ver o modo como ficava empolgado quando descobria algo novo. Ele só ficava feliz assim quando viajavam para Disney ou quando ela trazia o DVD de Star Wars para que eles assistissem juntos com várias guloseimas. Adorava a empolgação dele.
- E quanto tempo vai durar? - perguntou confusa. Olhando de um rosto para outro tentando fazer seu coração parar de bater com tanta pressa e obrigar sua cabeça a prestar atenção nas palavras de .
- Bem, antes de mais nada, quero que me prometam que não sairão daqui enquanto essa noite não acabar. É perigoso lá fora.
- Mas precisamos levar o para um hospital. Não sabemos o quanto nossos cuidados foram eficazes.
A explicação de fez com que todos virassem as cabeças na direção de , esperando que ele dissesse algo. Mas tudo o que ele fez foi negar com a cabeça, mostrando que mesmo com doente, ele não deixaria os amigos correrem perigo do lado de fora. não sabia quantos mais tremores estavam por vir e que materiais químicos poderiam estar na chuva. Não sabia o que estava acontecendo lá fora com certeza plena dos fatos. Não podia se basear apenas nos seus cálculos que poderiam estar errados.
- Desculpem-me, mas eu não posso deixar vocês saírem até que o dia clareie, é perigoso. é forte, ele vai ficar bem até que amanheça.
fez algumas contas rápidas e continuou apenas com a cabeça pra fora da porta, assim como , já que ambos não estavam em trajes suficientes para se colocarem por inteiro para fora da porta. Já tinha uma certa idéia de quantas horas a noite iria durar.
- E quantas horas essa merda de noite vai durar, ? - perguntou já impaciente.
- 36 horas.
foi para perto de , sendo abraçada por ele e confortada. e se entreolharam com medo e abraçou com o mesmo temor nos olhos.
Nunca pensaram que o fim do mundo estivesse tão perto. Nem que fosse tão assustador.
No quarto, gemeu, mostrando que havia acordado. E mesmo que isso fosse mais que claro, eles todos pensaram que aquela seria a noite mais longa de suas vidas.
CAPITULO QUATRO
- Trinta e Seis horas? - esganiçou - Quer dizer que eu tenho que tratar de uma costela quebrada por trinta e seis horas antes de poder levá-lo pra um tratamento especializado?
simplesmente negou com a cabeça, os braços ainda ao redor de que estava, descaradamente, tentando levar os lábios a seu pescoço, talvez na intenção de amolecê-lo para que fosse mais facilmente convencido. Mas ele foi firme.
- Nada até ao amanhecer.
- Mas vai começar a cauterizar - insistiu. - , vão ter que quebrar de novo pra colocar no lugar.
Como se estivesse acompanhando a conversa, gemeu novamente, de dentro do quarto, parecendo ter despertado de seu torpor.
- Não posso deixar - murmurou, parecendo tão penalizado por isso quanto os outros dois. - Eu não sei que tipo de poeira cósmica pode estar lá fora. Vocês podiam sair pra levá-lo e morrer no segundo seguinte. Falando nisso, vou ativar o sistema de proteção da casa e nós ficaremos sem visão até eu desativar a proteção, quando eu sentir que o Sol vai nascer.
negou com a cabeça, impaciente e contrariada. Ela apenas deu um passo para trás, fazendo sobressaltar-se e ameaçar segui-la.
- Eu só vou ver como ele está - Ela sussurrou.
Ele concordou com a cabeça e olhou pra , zangada. abaixou a cabeça, ligeiramente envergonhado com a repreensão da amiga, mas respirou fundo e lembrou-se que era pro bem de todos.
- ? - Ele chamou-a. Ela parou com a mão na maçaneta e voltou a olhar pra ele - Eu tenho uma coisa pra dar pra vocês, quando puder, estaremos na sala.
Ela concordou com a cabeça e sumiu pela porta. , então, encarou todos os outros.
- Vamos - Ele chamou.
Todos os acompanharam até a sala em silêncio. e demoraram um pouco mais porque tinham peças a vestir, mas ninguém os zoou, como normalmente teriam feito. O clima não era de um encontro entre amigos, isso havia superado pelo pânico interno que cada um sentia, sem querer transparecer.
aguardou que os últimos dois se juntassem, agarrado à uma maleta, parecendo assustadoramente calmo. Era diferente para ele, ele havia se preparado. Ele havia estudado para que, quando aquele momento chegasse, ele fosse capaz de salvar pessoas. apenas sentia muito por não ser capaz de salvar mais gente, mas ele salvaria seus amigos.
- Então? - perguntou, totalmente impaciente.
suspirou, e sentaram-se ao sofá e só então ele se mexeu, sentando-se sobre a mesa de centro, frente a eles, frente a . Ele tinha tido tanto medo de perdê-la, tão obcecado em ter maneiras de salvá-la quando Nêmesis chegasse, que não havia percebido que estava deixando-a de lado, perdendo a garota, de qualquer maneira. Mas ele preferiu esperar que ela estivesse pronta pra entender o porquê ele havia se trancado em seus estudos. Tê-la longe, mas viva era mais importante que tê-la por um tempo e deixá-la morrer.
- Eu imaginei que isso fosse acontecer - Ele sussurrou - Desaceleração da rotação Terrestre. Na verdade, eu acreditava que seria aceleração, mas tudo bem. - Ele respirou fundo e olhou pra , que concordou com a cabeça - Nós estamos com sorte. Nós sabemos o que está acontecendo e nós estamos com a noite primeiro. Mas isso não vai ficar assim. Imagino que o Sol, quando vier, estará mais forte, mais quente e virtualmente mais próximo por causa da radiação de Nêmesis. Será virtual, mas pode machucar nossos olhos por causa da radiação com o calor solar. À noite, eu acredito, é pior porque a radiação de Nêmesis é fria. Quando aquecida, ela perde força. Enfim, minha preparação foi um pouco exagerada, eu estava contando com cem dias em claro para cem dias em noite. Nem tudo que eu criei será necessário, mas... - Ele abriu a maleta. Dentro dela, óculos e relógios e ninguém entendeu uma vírgula. pegou um dos relógios, um mais delicado e estendeu a mão à que, meio assustada, lhe ofereceu o braço - Esse relógio vai ajudar vocês a manter o metabolismo. Nosso corpo vai estranhar as noites e os dias mais longos, mas o relógio irá controlar isso. Hormônios irão ser injetados em vocês para que se sinta fome na hora de sentir fome, sono na hora de sentir sono e eu posso programá-lo para não sentirmos fome se a comida acabar. Embora eu tenha um bom estoque.
Ele fechou o relógio ao redor do pulso de e deixou que ela se acostumasse com o objeto, olhando para ele.
- Sinto fome - Ela disse - E ainda sei que horas são.
Um pouco mais relaxados, eles riram e se aproximaram da caixa, cada um pegando seu relógio. pegou dois, com um aceno de , um para ele e um para . guardou o seu próprio e o de , que ele colocaria assim que pudesse. Então ele ofereceu um óculos de Sol à .
- Isso é mais forte que o normal. Ele vai proteger seus olhos quando o Sol nascer. - distribuiu os óculos a cada um. - Não percam, não esqueçam.
- Por que eu tenho a impressão de que isso é uma indireta para mim? - perguntou enquanto pegava um dos óculos e ajudava com a pulseira do relógio que ela ainda não conseguira ajustar.
- Porque é exatamente pra você que eu estou falando.
Todos na sala riram e formou um bico fofo que apertou brincando, fazendo com que o garoto risse novamente com os olhos brilhantes na direção dela.
- É só isso o que precisamos?
A voz de preencheu a sala verbalizando a pergunta da maioria. Para eles, antes, aqueles objetos seriam apenas mais acessórios comuns, mas depois de verem a utilidade, que fora devidamente explicada por , perceberam que talvez precisassem de mais coisas.
- Por enquanto só. Com a desaceleração diferente do que eu havia planejado, precisarei refazer alguns cálculos para ter certeza do que mais iremos precisar. Eles estão levemente equivocados.
- A meu ver, os seus cálculos não estão apenas levemente equivocados. Estão bastante errados. - comentou como se contrariar os cálculos preciosos de fosse algo que as pessoas fizessem todos os dias.
Imediatamente todos os olhares da sala se fixaram nela. A boca de formava um “o” de indignação perfeito. Todos estavam segurando o riso e até mesmo afundou o rosto no pescoço da namorada para evitar que a sua risada saísse alta demais.
- Eu... Eu... - Ele gaguejou, sem jeito - Me desculpem! Eu estive tentando o meu melhor. Eu não quis colocar nenhum de vocês em risco por minha causa.
Ele parecia prestes a ter uma crise de pânico e corou, se envergonhado de tê-lo provocado. Ela estava brincando. Ninguém no mundo seria capaz de prever com toda a certeza o que aconteceria.
- Relaxa, cara - levou a mão ao ombro dele - Ninguém duvida disso. estava brincando, certo?
Voltando a parecer tímida e insegura, ela acenou afirmativamente por trás de , que estava tentando segurar o riso.
concordou com a cabeça e sorriu de lado pra . Então, como se não tivesse nem se distraído, ele entrelaçou sua mão na de e a puxou em direção à cozinha.
- Vamos comer - Declarou.
e seguiram-nos, enquanto a garota pensava em um bom pedido de desculpas pro seu novo amigo. deixou que ela seguisse sozinha e franziu as sobrancelhas vendo sentar-se no sofá. reparou e fez um sinal com a cabeça para às escadas, fazendo rir.
- Boa sorte, cara - disse. E sendo muito mais legal que o normal, ele fechou a porta da cozinha.
ignorou a fome que o assolava; ele podia muito bem esperar mais um pouco pra comer. Aquela conversa... Não, ele não podia esperar mais. Então, ele ouviu o sapato da garota soando enquanto ela descia as escadas, parecendo apressada.
- Gente, ele está com tanta dor! Dei uns comprimidos e ele... - Ela finalmente visualizou a sala e encontrou encarando-a. Apenas . - ... Dormiu. - Ele a viu engolir a seco e dar um passo pra trás - Vou checar se ele ainda está dormindo! - Disse, apressadamente.
Rapidamente, reagiu. Ele levantou-se do sofá e pulou por cima dele a tempo de agarrá-la pelo braço antes que ela sumisse escada acima.
- Não. - Ele disse. - Nós precisamos conversar e você está adiando essa conversa há anos. Eu te respeitei e te dei todo o tempo do mundo, mas eu não vou deixar você fugir mais.
sentiu um calafrio subindo-lhe a espinha com o braço do garoto apertando-a tão forte. Ela olhou para seu próprio braço, a pela ficando vermelha mais pro ombro e o antebraço ficando cada vez mais claro e encarou-o.
- Tá bom - Foi o que ela conseguiu dizer. Ela queria gritar com ele para largá-la, mas não foi capaz. A culpa, afinal, era do tom de azul dos olhos dele.
Ele suspirou e soltou-a, virando-se de costas pra ela e voltando ao mesmo lugar do sofá. Ele bateu no lugar ao lado dele.
olhou ao redor, esperando que Deus a ajudasse a adiar mais um pouco aquela conversa e mandasse alguém chamá-la. Poderia ser até para falar sobre mais uma de suas teorias das quais ela não entendia nada. Qualquer um, mas o que não podia era ficar ao lado de e escutar o que ele tinha a dizer, começando a conversa que adiava há tantos anos e que, ao que parecia, estava mais do que disposto a colocar em dia.
Andando vagarosamente em direção ao sofá, ela apurou os ouvidos e quando se sentou no lugar ao lado de , ficou completamente desapontado por ninguém chamá-la.
- deixou isso pra você - Ele disse, dando-lhe o óculos. - Isso é pra proteger do Sol, ele acha que vai estar mais forte quando nascer. E isso - Ele lhe entregou o relógio - É pra manter o nosso metabolismo mesmo com as confusões de noite e dia, mas eu recomendo não colocar agora ou você vai ficar com muita fome. - Ela concordou com a cabeça e colocou os objetos sobre a perna, a desculpa perfeita para ficar olhando pra baixo, mas ele não permitiu, levando a mão ao seu rosto e levantando-o até poder encará-la. Ele sorriu, tristemente. - Você me afastou da sua vida.
Ela suspirou, tentando conter as lágrimas. Ela sabia que ele cobraria isso dela, de qualquer forma, e ver o quanto ela havia o magoado a fazia querer morrer.
- Você mudou comigo - Ela disse, as palavras que haviam ficado presas em sua garganta à muito - Você prometeu e mesmo assim mudou comigo.
- Não, linda - Ele disse, assim que entendeu que ela havia acabado - Eu não mudei com você. Eu sempre agi daquela maneira com você, da maneira que eu ajo até hoje porque eu sempre fui apaixonado por você, desde o primeiro momento. Eu sempre fui carinhoso e sempre deixei um pouco de mãos bobas pra você e você nunca se importou. Mas quando você... Percebeu... Depois daquela noite... Bom, foi você que mudou comigo.
olhou fundo nos olhos dela, controlando a pulso a sua mão para não segurar a dela, acariciando a pele de , numa tentativa de convencê-la não apenas com a sua voz, mas também com o seu calor. Ele sabia que existia algo forte e conectivo entre os dois, mas de qualquer forma, ela sempre insistia em negar isso.
- Eu...
- Shiiii - Ele levou o dedo aos lábios dela - Escuta. Eu sempre fui a favor de deixar as coisas acontecerem no seu tempo, na sua hora. Não é a toa que eu estou esperando que certas coisas aconteçam há quase uma década. Mas o mundo tá acabando, . Eu não posso suportar a ideia de que eu nunca vou poder tocar você de novo, ter você perto de mim de novo. Eu não me importo, quero dizer, você sabe exatamente as minhas intenções, mas eu não me importo de voltar a ser só seu amigo, mas... Eu queria que você não me excluísse da sua vida porque eu sinto muito a sua falta.
Ela meneou a cabeça e tentou manter a respiração normal enquanto sentia os dedos dele acariciando seu rosto. Ela levantou os olhos por um segundo e encarou-lhe, o sorriso doce e quase triste dele brincando em seus lábios cor de carmim que, ela bem lembrava, faziam maravilhas.
Por que ela era tão medrosa e idiota?
- Me... Me desculpe - Ela sussurrou, meio confusa - Eu... Eu tive medo de estar perdendo você.
- E você não fez isso acontecer, de qualquer maneira, me afastando de você? - Ele disse e, só então, percebeu que foi ligeiramente cruel com a escolha das palavras quando a viu balançar os ombros do jeito que ela só fazia quando estava prestes a chorar. - Olha, eu vou te dar um pouco mais de tempo pra... Pensar. Mas eu só queria fazer uma coisa antes por que... - Ele deixou sua mão cair em cima dos objetos que ele havia lhe passado e ela sentiu a respiração dele misturar-se com a sua. Seus olhos demonstraram surpresa, mas ela não reagiu - Eu tenho muito medo de não poder fazer mais isso caso... Algo acon...
Ele não chegou a terminar a frase. Os lábios dos dois se encontraram e ambos sentiram o mesmo calafrio da espinha de anos antes, mostrando a garota que não houvera nenhum efeito da bebida nisso. Planejadamente, a mão de que caíra sobre os objetos fora levada a cintura da garota, acariciando e apertando-a de uma maneira que a fez levar as mãos - e as unhas - ao seu pescoço.
Se o beijo não fosse a tais circunstancias, ele não teria nada de romântico; Era voraz e meio sem jeito de tanta vontade que se acumulara, mesmo sem que percebessem.
sorriu durante o beijo, percebendo como ela o correspondia e como passou a ser mais urgente quando ele desceu as mãos às suas coxas, apertando-as com vontade. Ele meio que encerrou o beijo, puxando os lábios dela com os dentes, antes de encostar os lábios nos dela, apenas levemente antes de se afastar.
Mas ele não conseguiu se afastar muito. Ele chegou a abrir os olhos e sorrir para a feição abobalhada que ela fazia, mas assim que percebeu que ele tinha mesmo a intenção de parar, seus reflexos puxaram-no de volta ao beijo, provocando um frenesi em , que agarrou-lhe pelos cabelos, beijando-a mais urgentemente que antes.
Então, deixando-o confuso, ela soltou uma exclamação de horror e se afastou abruptamente. Ele se perguntou se havia mordido-a com força demais, mas não havia sangue em seus lábios, então ele apenas abriu os olhos. E o sorriso iluminou seu rosto ao vê-la de olhos arregalados, as mãos sobre os lábios chocados, tão paralisada que parecia estar em choque. Ele suspirou e levantou-se, beijando-lhe o topo da cabeça com o mesmo sorriso de antes, vendo-a ceder diante de seus olhos.
- Pense com carinho sobre o que conversamos, tudo bem? - Ele sussurrou, antes de ir à cozinha comer alguma coisa com os outros.
O que ele não viu foi quando os lábios de perderam o formato de chocados para uma formação de um sorriso e seus dedos tocaram-nos quase como se não pudesse acreditar no que havia acabado de acontecer.
A enorme cozinha de , todos atacavam os pratos fumegantes que tirava do micro-ondas. Uma lasanha para cada e ainda alguns aperitivos para quem por um acaso sentisse um pouco mais de fome. O que conhecendo como todos conheciam, tinha certeza de que seria ele. Isto é, se ele não atacasse a lasanha da namorada também.
Todos comiam moderadamente e até , que era de comer pouco, estava comendo um pouco mais, beliscando alguns aperitivos. sorriu contente ao ver que o seu relógio estava funcionando e todos estavam comendo a mesma quantidade de comida e segurou a mão de , que imediatamente levantou o rosto da comida sorrindo para ele, e fazendo o sorriso de aumentar ainda mais em seu rosto, revelando sua fofa covinha.
- , você acha que os cálculos das quedas de meteoros estão completamente finalizados? - perguntou entre uma garfada e outra enquanto esticava a mão o máximo possível para pegar o maior pedaço de bolinho de arroz que havia na tigela de aperitivos.
- Não tenho certeza. Acho que deveríamos acrescentar alguns dados hipotéticos sobre a velocidade, apenas para testes. O que acha?
largou o garfo e em questão de segundos ela e tagarelavam sobre números e prótons que ninguém mais da mesa entendia. Mas daquela vez não estava prestando atenção nas discussões dos dois para sentir ciúmes. Estavam encarando , com olhares espantados para a boca do garoto onde parecia que a comida nunca pararia de entrar.
- Vuchê vai cumer esse pidaçu? - ele perguntou a ela de boca cheia depois de dar uma garfada no pedacinho de frango que escapava da lasanha de .
Enojada, empurrou a sua bandeja de papel com o resto de sua lasanha na direção de , que sorriu com a boca suja de molho, em agradecimento.
ergueu o olhar pra e e notou que até mesmo eles tinham parado de conversar, prestando atenção na velocidade com que devorava aquele pedaço de lasanha.
- Er... ?
- Hum? - ele levantou a cabeça da bandeja, que ao que parecia estava prestes a lamber, e encarou .
- Me passa o seu... Relógio.
limpou a mão num guardanapo que estendeu pra ele e tirou o relógio, entregando-o em seguida para o amigo que o virou e apertou uma série de botões que ficavam do lado esquerdo do aparelho, devolvendo-o para . O garoto olhou estranho para o relógio e o recolocou no pulso.
- Desculpe, dude. Eu regulei todos os relógios da mesma forma, mas tinha esquecido que o seu organismo é mais...
- Voraz? - deu a palavra certa que descreveria da forma mais educada a lambança que fizera com a comida minutos antes.
- É, voraz. - riu enquanto limpava a boca pedindo desculpas.
Enrubescendo, o mais novo apertou a mão da namorada, se sentindo envergonhado por seu ataque na cozinha, e entrou pela porta no mesmo instante que se preparava para uma piadinha sobre a fome descomunal que sempre sentia.
- E a ? - perguntou assim que apertou os botões do micro-ondas colocando a sua lasanha para assar por mais um minuto. - Achei que tinha ouvido a voz dela na sala agora há pouco.
- Ela já vem.
A resposta de fora curta e explicara mais do que ele saberia dizer. Todos naquela sala entendiam o que estavam acontecendo, e sabiam que era melhor que ficassem quietos em seus lugares. Todos ali sabiam a quantidade de problemas amorosos já tinham para que se preocupassem com os alheios.
O micro-ondas fez um barulho irritante avisando que o “um minuto” de havia acabado e ele retirou sua bandeja quente de lasanha de dentro do eletrodoméstico e sentou-se ao lado de e que terminavam as suas lasanha enquanto conversavam com e sobre música dos anos 70 e se sentia aliviado de pela primeira vez poder conversar com sobre algo que não fosse estrelas planetas ou aquelas loucuras que ele insistia em falar sempre.
De repente ele percebeu que estava apenas rolando um pedaço de macarrão de um lado para o outro na bandeja, parecendo sem apetite.
- Hey, o que houve?
- Adivinhe. - ele disse com uma risada forçada.
- e , outra vez?
não respondeu em voz alta, apenas assentindo com a cabeça e dando uma olhada para a sala, onde ainda podia ver as pernas de , sentada no sofá, provavelmente pensando no quanto ele era idiota.
- Quem sabe ela só precise de um tempo, .
- Mais? - perguntou ele irônico. - É o fim do mundo, . Quanto tempo mais eu poderei dar pra ela? Eu não sei quanto tempo mais ficarei vivo, e não quero morrer sem escutar ela admitir que entre nós existe alguma coisa.
colocou a mão no ombro do amigo que sorriu triste e arriscou mais uma olhada para a sala, procurando . As palavras de haviam entrado pelos ouvidos de e agora faziam uma revolução em sua mente. Era o fim do mundo e ao que parecia, estava dando mais atenção a e seus cálculos malucos do que a ele. Era como se ela nem sempre tivesse certeza de que ele entenderia o que era essencial para ela. Caramba! Ele poderia falar sobre estrelas com ela, se ela pelo menos se dignasse a falar com ele sobre esse assunto.
E então, por isso, ele iria fazer com que percebesse que ele poderia saber mais que sobre as estrelas. Ele sabia mais sobre do que qualquer um, quem sabe isso pudesse valer alguma coisa.
Sentada na sala, balançando as pernas no sofá, se perguntava sobre seus sentimentos e pretensões acerca do homem que estava no quarto e do outro na cozinha. Eles a deixavam confusa e agora com toda aquela situação de fim do mundo, os seus pensamentos estavam ainda mais embaralhados.
Sentia um carinho especial por mesmo depois de tudo o que passaram, mas não podia negar que o que sentia por era até avassalador de tão forte.
E era nesse momento que não sabia o que fazer.
No andar de cima, tentava se virar com o máximo de cuidado possível. Tudo em seu corpo doía e os seus membros estavam moles pelos remédios que havia dado a ele.
. Apenas de lembrar-se da garota cuidando dele com todo o carinho, ele já sentia o prazer coçar por dentro de sua pele. Não sofrera aquele acidente de propósito, mas ele bem que viera a calhar. No bom sentido, claro.
Agora cuidava dele com todo o seu carinho de médica e amiga e era só uma questão de tempo para que ela começasse a perceber que o que houvera entre eles poderia ter volta. E se empenharia o máximo para fazê-la ver que deveria dar mais uma chance a ele. Mesmo depois dessas ultimas burradas que ele havia cometido.
E então escutou um barulho estranho na janela, como algo bem pesado caindo. Uma arca ou coisa assim. Com dificuldade, levantou um pouco o corpo, o suficiente para olhar para a janela e ver uma enorme bola alaranjada e faiscante perto da casa e várias outras como ela caindo em sequencia por perto.
Se ele ainda duvidava que o fim do mundo existisse e estava próximo, agora ele não tinha duvida nenhuma.
Ao mesmo tempo em que encarava a janela, mais cinco rostos estavam grudados à porta da cozinha que dava acesso ao lado de fora olhando a enorme esfera no jardim sempre bem cuidado de , fumegando e soltando faíscas estranhas.
- Eu...
- Não havia previsto isso também, certo? - comentou. - Nem eu. Achei que seria um meteoro só, não vários meteoritos.
- A destruição é maior com meteoritos ou com um grande meteoro? - perguntou temerosa. Eles estavam a salvo pela inteligência de , mas existiam muitas pessoas no mundo que nem ao menos faziam ideia do que estava acontecendo.
chegou à cozinha com os olhos arregalados. Ela havia acompanhado a queda do meteorito da janela da sala e ainda estava trêmula por ter visto aquilo. Era realmente o fim do mundo.
- E então ? A destruição é maior ou não? - ela perguntou enquanto entrava abraçando a si mesma, tentando controlar os tremores de medo. Podia estar apavorada, mas se preocupava com as milhares pessoas que deveriam estar lotando os hospitais precisando de ajuda.
- Eu... Não tenho ideia.
Ouvir aquelas palavras da boca de era surpresa para todos ali e por isso o alarme de medo aumentou em todos eles. Se não sabia o que aconteceria a seguir, isso significava que as coisas estavam piores do que imaginavam.
CAPITULO CINCO
Todos que estavam na sala encaravam ao homem e à mulher, que faziam cálculos freneticamente, com um ar pesaroso. Mesmo com a quantidade de gente, o único barulho a ser ouvido no aposento era o de dois lápis riscando dois pedaços de papel.
Ao passar de determinados minutos, a mulher bateu na mesa, levantou-se e caminhou até o globo terrestre que havia sido colocado na sala para auxiliar nos cálculos. Ela deu uma girada no globo e bateu nele, parando-o e, com um sorriso glorioso no rosto, disse:
- Fora da zona de risco.
O homem respirou fundo e revirou os olhos, sublinhando algumas linhas de calculo e abaixando o lápis.
- Fora da zona de risco. - Concordou. - Ao menos durante essa noite. - E suspirou, como se sentisse uma dor absurda. - E eu não acho que Ela possa mover asteroides com a força reduzida que ela tem durante o dia.
abriu um sorriso estonteante por estar certa mais uma vez e suspirou, claramente cansado. Ele se programara todo, pensando em sobreviver àquilo há anos e tudo estava saindo completamente fora do planejado.
- Improvável - Ele continuou - Mas não impossível. Não, se tratando de Nêmesis.
O sorriso de murchou significativamente, mas ela acabou por concordar com a cabeça. Mas, ao olhar para o namorado e vê-lo apreensivo, resolveu amenizar um pouco.
- Mas é quase impossível - Disse - Podem se despreocupar.
Todos na sala, exceto , suspiraram aliviados com o sorriso tranquilizador da garota. O sorriso era falso, sabia. Ele não aprovava a confiança que ela estava dando a eles, deixando-os menos alerta, mas nada disse. Ao olhar para , levemente mais relaxada, ele conseguiu entender suas razões.
- Bom - Disse , atendo com uma mão em sua perna e a outra na perna de , que estava displicentemente sentado ao lado dela. Ele olhou para o gesto, quase que não acreditando. Ela arriscou um sorriso a ele - Vou comer, gente.
A garota levantou-se e caminhou até a cozinha, arriscando uma olhada para ele quando chegou à porta. soltou o ar com força assim que ela saiu do seu campo de visão. Todos o encararam, esperando que ele reagisse, mas ele apenas olhou-os, confuso.
- O que foi? - Perguntou.
Todos seguraram o riso. reclamara tanto das atitudes - ou da falta delas- na garota, mas parecia incapaz de ver o que ela queria.
- Bom, cara - disse enquanto se encaixava no abraço dele, o riso contido ainda brincando nos lábios de ambos - Eu acho que ela quer que você vá atrás dela, sabe?
O garoto estalou os lábios, e aceitando a sugestão sem falar nada, levantou-se e seguiu até a cozinha.
- Já passou da hora desses dois se acertarem, mas... - suspirou.
riu com gosto.
- O só não é mais lerdo que o . Então, , você não pode falar nada.
A garota corou até a raiz dos cabelos e revirou os olhos. Ele não era lerdo, só estava respeitando o tempo dela, a vontade dela... Afinal, fora ela que terminara com ele. Ele cruzou os braços e olhou pra garota, prestando o máximo de atenção nos trejeitos dela. O que o impedia de beijá-la nesse exato momento era o mesmo que a impedia de confessar a ele que ela queria.
- Não sou lerdo - disse.
Isso apenas fez e rirem ainda mais e ficar ainda mais vermelha.
Na cozinha, entrou com as mãos nos bolsos e aguardou que a garota o notasse, encostado no batente da porta, encarando-a enquanto ela procurava por comida já com o relógio no pulso. Ele admirou a silhueta esbelta da mulher que estivera em seus braços por apenas uma noite - tal noite que ele não conseguia esquecer nenhum detalhe - com um suspiro preso em si. Como ele a desejava!
Durante a adolescência, seus amigos disseram a ele muitas frases como “Esqueça! Você é amigo agora. Garotas nunca pensam em ficar com amigos.” e “Você só está fissurado desse jeito porque nunca aconteceu nada. Quando pegar, você vai desencanar”. Nada disso parecia sequer perto de certo. queria, claramente, ficar com ele e ele não estava muito disposto a desencanar.
Ela dançou alegremente até a geladeira, sem perceber a presença de , pegou uma jarra de suco e girou, arregalando os olhos finalmente ao ver o rapaz ali.
- Hey - Ele a cumprimentou, a feição um pouco mais dura que o planejado, sem realmente saber como agir.
Surpreendendo-o, a garota abriu o maior dos sorrisos ao vê-lo. Ele piscou algumas vezes, tentando descobrir se era uma miragem. Não era. E agora ele sabia menos ainda sobre o que fazer.
- Hey - Ela sussurrou.
Ela deu um passo incerto na direção dele e o seguinte foi mais incerto ainda porque o chão voltou a tremer. Metade do suco caiu no chão e correu até ela, segurando-a antes que ela escorregasse na poça laranja recém-formada abaixou de seus pés.
O chão logo parou de tremer, mas nenhum dos dois sequer reparou. Os corpos, agora juntos, pareciam acometidos de adinamia de tão moles e sem força que aparentavam estar. E tremiam. Tremiam tanto quanto o terremoto que parara, deixando que o barulho de coisas batendo, caindo e quebrando fosse substituído por uma suave e forte sequência de batidas sincronizadas de dois corações ansiosos por um próximo momento.
A garota fechou os olhos, entorpecida demais com as mãos firmes dele segurando-a pela cintura. Ela estava simplesmente cansada de tentar resistir aos lábios dele, aos seus toques...
Ele colocou uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha, admirando-a em seus braços, rendida. De súbito, ele curvou-se sobre ela e encostou seus lábios, apenas de leve, afastando-se em seguida. Isso a assustou.
abriu os olhos, mais que confusa. Ela encarou encostado na mesa da cozinha, apenas a um passo dela, mordendo os lábios, parecendo tão atordoado quanto ela. Inopinadamente, ela voou pra cima dele, abraçando-o e apertando suas bochechas com força.
Ele suspirou, levando uma de suas mãos ao cabelo dela, acariciando levemente, fazendo-a estremecer. Ela espalmou as mãos em seu peito, respirando longa e pesadamente.
- Qual o problema? - perguntou. Ele a conhecia bem demais para pensar que estava tudo bem com a garota.
Ela passou os braços pela cintura dele, escondendo o rosto na curva de seu pescoço, fazendo-o rir baixinho. Ele sentira falta de confortá-la dessa maneira.
- Eu estou tentando ser forte, mas estou tão assustada - Ela sussurrou contra a pele dele, fazendo-o se arrepiar - E confusa.
Ele suspirou e, segurando seus braços, fez a se afastar parcamente dele, deixando-a ainda mais confusa, mesmo que não tivesse tirado os braços dela. Porém, ele conseguira o que queria: Olhar em seus olhos.
- Não quero deixar você confusa. - Disse, firmemente. - Só quero estar do seu lado, ajudar e apoiar você. Você só tem que decidir como quer que eu faça isso. - Ele sorriu, tentando passar algum tipo de confiança para o olhar assustado que ela mantinha - E estamos todos com medo, . E é pra isso que temos uns aos outros.
Ela sorriu de lado, levemente, e deixou-lhe um beijo bem no cantinho daquele sorriso, fazendo-a encará-lo admirada. Ela chegou a ficar na ponta dos pés na intenção de beijá-lo, mas, no ultimo segundo, suspirou e se afastou.
- Eu tenho que levar comida pro - Justificou-se.
revirou os olhos, quase sorrindo. Ela ignorou isso, pegando alguns cereais (ou tentando, já que ela não os alcançava).
- Você sempre tem um jeito de estragar o clima, não é garota? - Perguntou, fazendo-a rir. Ele caminhou até ela, pegou os cereais, passando-os a ela. - Você devia comer algo antes de ir.
Ela concordou com a cabeça e voltou a abrir a geladeira, pegando material para fazer um sanduiche.
- Sabe. - murmurou, após morder o sanduiche recém-preparado, tendo passado todo aquele tempo, até então, em silêncio com os olhos de nela. - Chuva? Meteoros? Terremotos? Essa estrelinha não tem nada de assustadora.
suspirou e aguardou. Cinco segundos contados, como ele imaginara, soltou um gemido e se debulhou em lágrimas. Com o coração na mão por vê-la tão nervosa, ele caminhou até ela e passou o braço ao seu redor, puxando-a para perto de seu corpo e lhe acariciando a nuca.
- Não precisa se desesperar, nós estamos juntos nessa - Ele sussurrou. - E eu vou ficar com você por quanto tempo você quiser. Pra sempre, se for necessário. Eu... Amo você.
Ele sentiu que ela parara de chorar para olhar pra ele, mas ele desviou seu olhar, encabulado pelo que havia acabado de dizer. Não fora planejado, ele somente dissera o que estava sentindo. Mas, agora, ele estava mais que envergonhado.
- Eu... Sinto muito, - Ela murmurou - Eu queria saber o que fazer.
Ele sorriu de lado, voltando a olhá-la. Ela encarava seus olhos marejados quase sem piscar, totalmente encantada.
- Não precisa... sentir muito. Eu sou apaixonado por você desde que te vi pela primeira vez e não vou sair daqui tão cedo. Eu posso esperar você até o fim do mundo. - a garota deu uma risada anasalada, engasgando-se com o choro por causa das palavras dele. Isso o fez rir também. - Irônico, huh? Gora você entende por que eu estou te pressionando? Eu sinto por você estar se sentindo assim, mas eu não posso esperar mais.
beijou a testa dela e ela fechou os olhos com força, deixando que algumas lágrimas corressem livremente pelo seu rosto. Ele percebeu isso e abraçou-a com força.
- E se tudo acabar amanhã? - Ela perguntou com a voz fraquinha de medo. - E se eu ainda estiver confusa e...
- Não importa. - Ele interrompeu-a. - Eu ainda vou estar aqui. Vou morrer ao seu lado, se isso for o caso, mas eu não sair daqui.
Ela passou os braços ao redor dele e apertou-se, fazendo-o sorrir. Ficaram assim por algum tempo, sorrisos bobos brincando no rosto de ambos, até que resolveu se afastar, limpando o resto das lágrimas com as costas das mãos. a ajudou um pouco, sorrindo pra ela.
- Obrigada - Ela sussurrou. - Eu... Vou pensar sobre isso, .
concordou com a cabeça e ela sumiu, levando a comida que declarara que devia comer. Sopa.
Ela passou pela sala e encontrou os amigos assistindo ao começo de uma projeção que, pelo assunto (in) apropriado (fim do mundo), que escolhera.
Todos eles pareciam bem confortáveis. e estavam abraçados no sofá menor e ele parecia bem mais assustado com as projeções que a namorada. e sentavam-se ao sofá maior, ligeiramente mais afastados que os outros dois, mas podia ver que seus mindinhos se tocavam. Fez um careta fofa para aquilo e se distraiu por alguns segundos, vendo entrar na sala, encarar os dois casais e preferir sentar no chão para não perturbar ninguém.
Só então ela percebeu que estava parada aos pés da escada com a sopa de esfriando. Balançou a cabeça, rindo.
- O que eu faço com você, ? - Sussurrou para si mesma.
Subiu as escadas e bateu de leve na porta de antes de abrir. Ele exibiu um sorriso maior do que gostaria que ele pudesse dar ao vê-la. Engoliu a seco, sabendo que magoaria os sentimentos dele se ficasse com , mas ele se importaria se a magoada fosse ela? Dificilmente.
- Trouxe sua comida - Ela disse, devolvendo o sorriso, mas sem tanto fervor.
Naquele momento, enquanto sentava-se ao seu lado, ela decidiu como gostaria de passar seus próximos - e talvez últimos - com .
Na sala, havia desistido de assistir ao filme e estava beijando o pescoço de , tentando convencê-la a dar atenção a ele enquanto a garota apenas gargalhava, dando-lhe tapinhas fracos e fazendo doce.
Era para que e ficassem revoltados com a falta de consideração - e excesso de barulho - dos amigos, mas ambos estavam distraídos, fingindo que estavam prestando atenção na projeção quando, na verdade, estavam muito concentrados acariciando a mão um do outro.
, por outro lado, estava. Ele já havia tacado a única almofada ao seu alcance em e, agora, desarmado e sem conseguir ver o filme por causa das risadas de , estava entediado e se sentindo sozinho. Todos, ali, estavam em casal e não se encontrava por perto para ele tentar tirar uma casquinha. Ela estava alimentando no andar acima.
Ela estava... Em casal.
Ele levantou-se em um pulo, assustando e que soltaram as mãos, corando.
- Ahn... - Murmurou, tentando arrumar uma desculpa, já que havia chamado à atenção - Vou dar uma checada no .
riu alto, fazendo os outros a acompanharem.
- Vai lá, garanhão! - berrou, quando alcançou a escada, longe demais para que ele voltasse disposto a lhe dar um soco.
- Ciumento! - A namorada dele berrou, ajudando-o, muito mais correta que .
Ele subiu dois degraus de cada vez e nem se deu o trabalho de bater na porta. E a visão que teve o fez corar até as orelhas. De raiva.
. ESTAVA. COM. A. MÃO. NA. COXA. DELA.
A coisa mais sensata - e menos hostil - que ele conseguiu processar para dizer foi:
- , posso falar com você?
A garota ainda não o tinha visto ali, então pulou de susto. Seu coração disparou ao olhar pra ele, mas seu olhar, cheio de raiva, a assustou. Então, ao seguir a direção dos olhos dele, ela entendeu.
‘Ah, Isso.’ Pensou.
Distraidamente, ela empurrou a mão de para longe dela e lhe deu mais uma colherada de comida, sentindo-o voltar a colocar a mão no mesmo lugar. Respirou fundo, apoiando, enfim, a bandeja com seu prato na cabeceira da cama.
- Venho buscar isso depois, ok? - Ela disse a ele.
não gostou nem um pouco de vê-la saindo do quarto sob o olhar raivoso de . Os dois se encaravam odiosamente antes que fechasse a porta e voltasse seu olhar para .
Aproveitando que a garota havia se apoiado na parede, ele encurralou-a, colocando um braço de cada lado do seu corpo. a viu suspirar e demorar um pouco mais com os olhos fechados e, inconscientemente, olhou para seus lábios antes de sacudir a cabeça e voltar ao foco.
- Eu te dei tempo pra pensar, - Murmurou, a raiva muito clara em seu tom de voz - Não para ficar se agarrando com o por...
Ele não conseguiu terminar a frase, não o permitiu. Com um sorriso bobo, ela envolveu o pescoço dele e, na ponta dos pés, capturou seus lábios, apenas encostando-os.
demorou alguns segundos, ainda de olhos arregalados pela surpresa, antes de perceber o que realmente estava acontecendo, mas quando o fez, agarrou a garota pela cintura e apertou o corpo contra o dela, aprofundando o beijo e beijando-a da maneira que desejava, há tanto tempos.
Foi a garota que encerrou o beijo. Ele a olhava sorrir de olhos fechados enquanto se afastava, totalmente abobalhado com o acontecido. Ela, ligeiramente envergonhada, escondeu o rosto no pescoço dele sem sequer abrir os olhos. respirava com dificuldade e estava tentando formular alguma coisa sensata para dizer, para saber se aquilo era realmente real.
- Uau - Foi o que ele conseguiu. Isso não ajudou a garota a deixar de ficar vermelha - Isso... Significa que nós estamos juntos agora?
Ela sorriu, totalmente lenta. a abraçava de uma forma que ela só conseguia pensar em entrar em algum daqueles quartos e acabar logo com aquela vontade dentro dela, estava a enlouquecendo! Mas, ao invés disso, ela apenas deu um beijinho em seu pescoço. Não pode ver, mas sabia que ele estava sorrindo, então encostou seus lábios de novo no pescoço dele e os manteve ali.
- Isso é um sim? - Ele perguntou. Sentiu-a concordar com a cabeça - Sério mesmo? - Perguntou novamente, fazendo-a rir e encostar a cabeça de volta na parede, apenas para olhar pra ele.
Os olhos dele brilhavam tão deliciosamente que ela achou que suas pernas iam fraquejar. Por que ela deixara tanto tempo e tanta bobagem entre os dois? Ela não queria que a amizade deles acabasse por causa disso, mas não a destruíra, de qualquer jeito, tentando proteger? E lá estava ele, tentando tê-la de volta de qualquer maneira. Bom, já que era assim, ela preferia desse jeito.
- Sério. - Disse.
Ele jogou a cabeça pra trás, gargalhando de pura e extrema felicidade, fazendo-a querer se juntar e acompanha-lo. não demorou muito naquele estado, ele logo voltou a beijá-la, abraçá-la, apertá-la...
Nenhum dos dois viu a hora passar. Não se preocupavam, efetivamente, com isso. Eram só os dois e aquele era o momento deles, o momento que estavam esperando... Há tanto tempo que nem sabiam. Então quando, finalmente, foram interrompidos, nem parecia que havia se passado mais de uma hora.
- Ow, casal! - chegou pulando em cima de , o que fez com que ficasse quase sufocada contra a parede e xingar um palavrão - Calma, garota! - resmungou, enquanto o empurrava, totalmente revoltado com a interrupção.
correu e se escondeu atrás de , que ria. , agora rindo, passou os braços ao redor de
- Espero que agora que estão em casal, a paz reine nessa casa. Já temos muitos problemas para além de tudo ter que aguentar o mau humor de ciumento de . - riu mais ainda, agora olhando na direção da escada, onde subia lentamente, apoiando-se no corrimão.
- Escuta só, ? Eles são um casal! - quase gritou quando a menina chegou, finalmente ao corredor, fazendo com que todos ali voltassem a rir.
abraçou de um modo possessivo, puxando-a para sua frente e fazendo com que todos mesclassem expressões de "ai, que fofo" e " Garanhão!". Especialmente que não via a hora de perturbar o amigo quando estivessem a sós.
- Er... - disse mais uma vez, enquanto olhava para porta encostada do quarto de . Faz um gesto simples na direção do quarto e todos assumiram, dessa vez, expressões tensas.
- Ele não está nada bem, . Acho melhor nem contarmos nada para ele sobre eu e estarmos juntos. Não sei até que ponto ele aguentaria uma noticia forte como essa.
- Precisamos levá-lo para um hospital. Essa é a verdade. - disse, sem perceber que estava cada vez mais próxima de . Era quase como se sempre orbitasse ao redor dele. Não importava o quanto tentava ficar longe, e as brincadeiras com as mãos na sala ainda pioravam a situação. Ela não queria ficar tão sentimental e parecer tão implorativa, mas era inconsciente.
- Não dá, gente - disse. - Só de manhã.
bufou, o que causou uma pequena carranca no rosto de , que ele tratou de esconder com rapidez. Afinal, ele esperava que ela estivesse apenas agindo como médica e ele deveria agir como tal (mas não conseguia).
- Amanhã, então? - questionou.
Todos eles se encararam por um momento, sentindo a tensão de sair de casa no ar. Era amedrontador, mas necessário.
- De tarde. - murmurou. - Talvez.
enlaçou a mão na dela e sorriu quando ela procurou o seu olhar. Que ao menos eles pudessem se apoiar um no outro. encarou por alguns segundos, antes de desviar o olhar. Desejava poder abraçá-la, mas tinha medo de desejar demais e acabar ficando sem nada.
- Bom, acho melhor a gente ir dormir, não? – perguntou, encarando . A garota concordou com a cabeça, um leve sorriso no rosto e deixou-se ser guiada para o quarto no fim do corredor.
e também seguiram seu caminho, ocupando o quarto da garota, exatamente ao lado do de e deixando e sozinhos no corredor.
- É… Deveríamos dormir também. - disse parecendo meio incerto. Queria saber como agir, o que dizer, mas não conseguia. Sua mente rodopiava possibilidades que o deixavam aflito demais para pensar com clareza. respirou fundo.
- Tem razão… - Nenhum dos dois se moveu. Não se encaravam, não
falavam nada, só ouviam um a respiração do outro. tinha a vontade de
confrontá-lo, quer dizer, era o fim do mundo, ele não se importava nem um pouco
com ela? Não sentia que a qualquer momento podia perdê-la? - Boa noite então. -
Ela sussurrou triste, seguindo o caminho até a escada.
- . - a chamou, fazendo a garota encará-lo. Aqueles olhos…
o que acontecera com o brilho nos olhos dela? Há muito tempo ele não ouvia mais
sua gargalhada, ou sentia sua alegria radiar o lugar. Sentia a culpa sobre os
ombros quando lembrava-se de há alguns anos. Eles nunca chegaram a
realmente terminar o namoro. ficava cada vez mais obcecado e cada vez mais
relapso e ausente. O relacionamento foi simplesmente se desfazendo, até ele ser
afastado da NASA e se ver sozinho, dentre milhões de questionamentos, cálculos
e projetos. Ele a amava. Só Deus sabe o quanto.
-
? - Ela chamou a atenção do garoto, quando notou que ele estava
absorto. Lembrou-se de quantas vezes tentou fazer seu relacionamento com
dar certo. Sua obsessão tinha a afastado dele aos poucos, de maneira fria e
desgastante.
- Onde você vai dormir? – Ele perguntou cruzando os braços, para que pudesse controlar a vontade de tomá-la em seus braços. A perdeu por negligência, por der um idiota.
- Na sala. e estão em um quarto, e no outro, você no outro. O sofá me parece confortável. – Respondeu fria. Precisava dele, era um fato. Queria passar a noite ao seu lado e adormecer em seus braços, ouvindo a promessa de que as coisas ficariam bem, mas não podia. Precisava entender que a prioridade dele não era ela e sim, a salvação do planeta. Ele respirou fundo, abaixando a cabeça e concordando. Queria chamá-la, dizer para que ficasse com ele aquela noite, como tinha ficado algumas horas antes, mas foi covarde e só concordou. soltou o ar e abaixou a cabeça, claramente decepcionada. – Boa noite, . – E desceu as escadas, segurando algumas lágrimas. Era uma estúpida por pensar que poderia, de alguma ou qualquer forma, importar-se. Deitou no sofá, de cara para o encosto, recitando o mantra de que não iria chorar. Não podia chorar.
- Vem dormir na cama. – Ouviu a voz de , decidida, mas baixa, assustando-a. Virou-se, encarando-o bagunçando os cabelos. – A sala não é segura, os quartos foram mais preparados pro caso de terremotos ou algo parecido.
- Estou confortável, obrigada. – Disse seca, voltando a virar-se para o encosto do sofá. segurou o riso, encarando-a ali deitada. Teimosa como sempre.
- , anda... Vai pra cama. – Ele repetiu, como se falasse para uma criança. não respondeu, não e moveu. Ele bufou. – Eu sei que mereço ser ignorado, tá? – Seu tom de voz parecia cansado, derrotado. – Mas tudo é pelo bem de vocês... de todos vocês. – Ele terminou quase em um sussurro. Ela continuou calada. Ele simplesmente cansaria de ser ignorado e iria embora. O ouviu bufar e aconchegou-se mais. Ele desistira. Manteve os olhos abertos, concentrando-se no som dos pés de na escada, que nunca veio. Ao invés disso, sentiu suas mãos frias passarem por trás de seus joelhos e costas, erguendo-a do sofá.
- Thomas! O que você está fazendo?! Me põe no chão! – Ela reclamou sacudindo as pernas, enquanto ele subia a escada.
- Se você não parar de se mexer, vamos cair os dois.
- Me coloca no chão. Eu não sou criança!
- Ignorar-me enquanto eu prezo pelo seu bem estar é realmente muito maduro. – Disse entre dentes, chegando ao corredor, no andar de cima.
- Solta! – Ela empurrava seu peito, enquanto ele mantinha seus braços firmes ao redor dela. empurrou a porta, deitando-a na cama e fechando a porta em seguida. – Você é um idiota.
- Eu sei. Agora, o relógio vai regular nossos sonos em alguns minutos, . Prepare-se para dormir. – Ele pegou um lençol no armário, estendendo-o no chão.
- O que você está fazendo?
- Arrumando minha cama. – Ele estendeu mais um lençol sobre o outro e pôs seu travesseiro no chão, pegando um cobertor no armário e deitando em sua cama improvisada. – Boa noite.
- Boa noite. – Ela respondeu aconchegando-se na cama. Os lençóis, as fronhas, tudo tinha o cheiro dele. Era uma tortura. - sentiu a cama tremer um pouco, e uma leve camada de poeira cair do teto. Prendeu a respiração, nervosa. - …
- Está tudo bem, foi um tremor leve. Não precisa se preocupar. - Ele respondeu tentando acalmá-la.
- Estou com medo…
- E queria dormir na sala sozinha. - Ele retrucou e ela sentiu-se furiosa.
- Boa noite, Thomas. - Ela disse indo para o canto da cama, com o rosto virado para a parede, com raiva. Ouviu seu relógio e o de apitarem juntos e o sono começar a tomar conta de si, cada vez mais forte. Antes que pudesse apagar completamente, sentiu o braço dele envolver sua cintura e sua voz rouca pelo sono sussurrar em seu ouvido.
- Eu vou proteger você.
encarava o teto branco do quarto enquanto ponderava o motivo de demorar tanto tempo para beber um simples copo d'agua. Ele levantou contrariado da cama, mesmo que o cansaso já estivesse o dominando, ele estava decido em encontrá-la e arrastá-la de volta para o quarto se fosse preciso. Caminhou pé ante pé no corredor e desceu cuidadosamente as escadas. A casa estaria em completa escuridão e silêncio se não fosse pelo pequeno abajur aceso próximo ao painel na sala e o ruido que o pincel atômico fazia quando riscava alguns números e fórmulas na grande lousa.
- O que você está fazendo? - sussurrou cansado, envolvendo os braços na cintura na namorada que saltou em surpresa.
- , você me assustou querido. - Ela o encarou por um instante, apenas o suficiente para receber um beijo estalado em sua bochecha; para então, voltar a sua atenção ao que fazia.
- Vamos dormir, já está tarde. Você não pode terminar isso amanhã? - continuou descendo os beijos até o pescoço de , na tentativa de fazê-la ceder.
- Eu prometi ao que faria a conferência dos cálculos para termos certeza de que podemos levar ao hospital com segurança. Preciso terminar isso agora, antes que o relógio apite e eu seja forçada a dormir... - continuou escrevendo, tentando se concentrar no que tinha que fazer, mesmo que fosse quase impossível com os lábios de lhe beijando em lugares que ele sabia que surtiam efeito sobre ela.
- Então eu fico aqui com você, posso te fazer companhia. - Ele se afastou alguns poucos centímetro para falar, e sentiu um arrepio como resultado daquela voz rouca tão próxima a sua pele. Definitivamente ela não conseguiria nem solucionar uma simples fórmula de báskara com ali.
- Melhor não , você rouba a minha concentração. - girou o corpo, dando um pequeno beijo de ‘boa noite’ nos lábios do namorado, para então dar início ao cálculo da terceira linha da equação. Ela tinha certeza de que havia errado cada vírgula daquilo desde que sentiu as mãos de em sua cintura.
- Talvez o sinal que você colocou na quarta linha esteja errado, já que a polaridade está invertida... - não tinha ido dormir? Foi o que a mulher pensou quando a voz do namorado soou depois de alguns minutos, fazendo com que largasse o pincel de qualquer jeito sobre o aparador da lousa para fitá-lo sentado no sofá. Os olhos dela piscaram algumas vezes, com a boca aberta em exclamação, tentando entender o porque ele havia falado aquilo. Por mais que a polaridade estivesse invertida, o cálculo era sobre a duração da noite e esse fator não teria influência, ou teria? O cérebro de deu um nó, e ela ainda encarava surpresa o rosto do namorado que ruborizava ao vê-la o observando daquele jeito.
- Da onde você tirou isso ? - Ela questionou. Por mais que e ela conversassem sobre as estrelas algumas vezes, ele nunca havia se mostrado interessado em nada mais do que a apreciação delas depois de uma noite romântica.
- Eu também posso conversar com você sobre essas coisas , eu... também posso te ajudar, se você ao menos me desse atenção. - estava cansado de ter que dividi-la. Soava um tanto quanto egoísta da sua parte, mas, se o mundo estava mesmo acabando da forma como eles acreditavam que estava, tudo que ele queria era poder passar os últimos momentos de sua vida ao lado da pessoa que ele mais amava em todo o mundo. Porém, não parecia muito interessada nessa ideia. Todos os momentos que eles estavam de fato juntos, como um casal, a garota parecia distante, com os pensamentos ocupados por toda essa bagunça que a vida deles havia se tornado.
- querido, - se aproximou tomando o rosto do namorado entre as mãos, fazendo com que ele a encarasse nos olhos. - Eu sei que você não gosta dessas coisas. Astronomia, ciências e muito menos cálculos matemáticos... - Ela sorriu doce, mas ele fez uma pequena cara de dor, como quem tivesse sido pego no flagra fazendo algo errado.
- Está bem, - Ele inspirou pesado, mas desviou os olhos até o quadro para conseguir continuar falando - Eu li algumas páginas daquele relatório do . Mas só algumas poucas mesmo, porque Deus, como aquilo é chato!
- Eu imaginei - soltou uma pequena risada divertida, esquecendo-se por um instante do que tinha que fazer, para sentar no colo do namorado, envolvendo seus braços no pescoço dele.
- Eu só queria que pudéssemos ficar mais juntos. Desde que isso tudo começou, você está tão distante de mim. - Ele confessou o que mais lhe atormentava com um pequeno carinho no rosto da namorada.
- , porque você acha que eu me esforço tanto para ajudar o ? - A mulher perguntou.
- Não sei, talvez porque você goste demais dessa estrela ou porque beba da mesma água que ele... - Ele fez graça, mas não desfez o semblante sério. Ela levou uma das mãos até a nuca do namorado e embrenhou os dedos nos cabelos dele antes de responder.
- Por você. - respondeu, com os lábios mal se movendo do lugar. - Eu não quero morrer , não quero que você morra. Não quando fizemos tantos planos de nos casar e ter três filhos... - fez menção de interrompê-la, mas ela não permitiu. Mesmo que a voz já embargada insistisse para que ela terminasse o discurso ali. - Porque nós prometemos que iríamos envelhecer juntos e concordamos em passar os nossos últimos dias de vida ao som dos albums dos Beatles. - Os dois sorriram e apertou mais os braços em torno de , fazendo com que os dois ficassem mais próximos.
- Eu te amo, não consigo suportar a ideia de viver sem você. - Ele sussurrou com os lábios grudados na orelha da namorada.
- Estou lutando pra isso nunca acontecer. - respondeu antes de beijá-lo. As mãos de espalmaram nas costas dela, fazendo com que os dois corpos se ajustassem perfeitamente um sobre o outro. A mulher correu as mãos pelo peitoral do namorado, completamente exposto pela falta da camiseta. Um dos maravilhosos hábitos de Jones: dormir sem camisa. Poupava muito trabalho em momentos como esses. As peles se tocavam em cada local exato, fruto de anos de convivência que os faziam reconhecer cada centímetro do corpo um do outro. Foi por isso que arfou quando sentiu as pontas dos dedos dele tocando-lhe por debaixo da fina regata que usava.
inclinou o corpo da namorada sobre o sofá, deitando sobre ela ao mesmo tempo em que mordiscava a pele exposta do colo da mulher. buscou os lábios de novamente enquanto entrelaçava as pernas nas dele. Talvez ele estivesse certo, ela precisava mesmo de um momento com ele como aquele para recarregar as baterias do seu coração. sabia que fora seu lado sentimental quem havia dado aquela resposta, mas ela poderia ignorar os pensamentos da astrônoma por alguns minutos. merecia aquilo, ela mesma merecia. E ela faria de tudo para cumprir aquela promessa.
A mulher havia começado a deslizar a cueca pelas pernas de quando os relógios apitaram. Ele desvincilhou os lábios dos dela a tempo dos dois encararem o objeto em ambos os pulsos.
- Droga. - resmungou.
- Mas o que? - sentiu as pálpebras pesarem, e toda a virilidade que ele sentia a segundos atrás parecia ter se esvaído, dando lugar a um sono incontrolável.
O tempo apenas o foi suficiente para que ele deixasse o corpo cansado cair no vão entre a namorada e o encosto do sofá, para que instantes depois ambos embarcassem em um sono profundo.
não perdeu nenhum segundo mais. Ele não podia. Assim que cruzaram a porta do quarto da garota sem que ela reclamasse por ele estar planejando dormir por ali, ele fechou a porta e arrancou um beijo dela de tirar o fôlego.
Aos poucos e aos tropeços, os dois chegaram na cama. estava tentando arrancar a blusa dela quando ela encostou a perna na beirada da cama e desabou, levando ele consigo e encerrando o beijo em meio a uma gargalhada.
Ele rolou para o lado enquanto a garota ria e cerrou os olhos em direção a ela, que apenas o encarou e riu ainda mais.
- Ei! – Ele reclamou, puxando-a pela cintura e enlaçando-a, seu corpo de volta ao encostar macio com o corpo dela. – Você está pensando que vai fugir de mim, mocinha?
sorriu, apoiando a mão no peito de e levantando o rosto para olhá-lo. Sua barriga estava sendo puxada para dentro, pelo umbigo e ela estava adorando a sensação e quase conseguia se odiar por ter deixado aquilo de lado por tanto tempo. Foi dito quase? Não, ela realmente se odiava.
Com o rosto acima de , ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto ele a observava com um sorriso bobo no rosto. Sorriu, também, abobalhada com o brilho impecável nos olhos dele. Deixou os lábios caírem e encontrarem-se com os dele em um toque simples e rápido.
- Não pretendo. – Ela sussurrou, os lábios escorregando para o pescoço dele. – Não mais. Nunca mais.
fechou os olhos e girou, ficando por cima dela e fazendo com que ela parasse de beijar o seu pescoço para beijar-lhe os lábios de forma fervorosa.
A blusa dela desapareceu logo em seguida, as mãos de tateando sem busto com bastante vontade e seus lábios dedilhando seu pescoço. A mulher conteve um gemido e apertou as unhas nas costas dele.
Naquele momento, bem quando estava planejando abrir o fecho do sutiã dela, o relógio dos dois apitou, como se fosse um só. Instantaneamente, bocejou e sentiu a mão de afrouxar o aperto em suas costas.
- ... – Ela murmurou baixinho, quase como se pedisse desculpas. – Eu estou com sono.
suspirou, apertando em um abraço e girando para que ela deitasse sobre seu peito. Viu-a fechar os olhos e se esforçou e não fechar os seus próprios.
- Eu sei – Ele murmurou em meio a um bocejo. – Eu odeio o .
E não conseguiu mais evitar dormir.
A manhã tinha sido perdia em preparativos para levar ao hospital. sumira a manhã toda na garagem, trabalhando no carro para leva-los em segurança. As meninas se concentraram em tentar montar uma maca com os materiais que encontrassem na casa e tentar prendê-la de uma forma que não arrebentasse com o peso de .
e , então, ficaram com a comida. Por sorte, morava sozinho há algum tempo, então eles tiveram uma comida agradável ao meio-dia em ponto.
não ficou nada feliz em ser locomovido, principalmente porque estava segurando a maca na altura da sua cabeça. Ele praguejou algumas muitas vezes e tomou o cuidado de se manter afastada dos dois, principalmente enquanto desciam as escadas.
E, então, com cuidado, Conseguiram colocar deitado no banco traseiro do carro e os outros ficaram esperando enquanto levantava a porta da garagem para um cenário tão claro que os fez apertar os olhos.
- É neve? – perguntou.
deu de ombros para a pergunta, sem saber o que responder. encarou a todos por um momento e deu um passo a frente, amassando a camada de pó branco que cobria tudo no lado de fora. Nada aconteceu.
- Parece só poeira –Ele disse.
E, então, ele abaixou com cuidado e deixou-se tocar de leve na tal poeira esbranquiçada.